por Zema Ribeiro

 

Torquatólogo de primeira hora, o jornalista e escritor Kenard Kruel, autor de Torquato Neto ou a Carne Seca É Servida, que recentemente ganhou nova edição, cravou em uma rede social: “Eis que surge um livro de respeito, de tutano, de vergonha, em que Torquato Neto é trabalhado em toda a sua alta voltagem cultural e artística”.

Ele se refere a O Risco do Berro – Torquato Neto, Morte e Loucura, de Isis Rost (baixe aqui), gaúcha radicada em São Luís, recentemente graduada em ciências sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A obra, aliás, é uma adaptação de seu trabalho de conclusão de curso – mas já é outra coisa, completamente diferente.

Isis Rost, autora do livro O Risco do Berro – Torquato Neto, Morte e Loucura

Flávio Reis, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA, seu orientador, atesta, porrada no pé da orelha (do livro):

“Berro ensandecido para saudar a figura indomável de Torquato, o livro é uma lufada de criatividade a desafi(n)ar o bom-mocismo acadêmico destes tempos tão obtusos”.

“O Flávio sempre me deu liberdade total de criação, e isso é raro em nossos tempos acadêmicos, quando a regra está virando copiar e citar! Ele me olhou e disse assim: uma folha em branco suporta qualquer coisa, desde que esteja dentro da discussão. Isso não é um toque maravilhoso?” Isis me devolve essa pergunta quando lhe indago qual é o papel do mestre na feitura do “contraindicado às pessoas caretas”.

A fascinação por Torquato Neto e sua trajetória conturbada, fora de quaisquer padrões, começou cedo. “Desde guria tenho fascinação por Torquato. Fiquei invocada num livro, cujo nome era Os Últimos Dias de Paupéria, em que se lia uma breve nota sobre o poeta maldito que havia se suicidado no seu aniversário de 28 anos... Quando descobri que este seria o tema da monografia, foi um pulo pra me aprofundar na obra de Torquato. É uma satisfação homenagear o poeta”, ela conta.

Depois da defesa do trabalho perante a banca, Isis mergulhou noutro processo: reescreveu o livro várias vezes e fez, ela mesma, com fartura de ilustrações, a diagramação e o projeto gráfico, inspirado na Navilouca, revista revolucionária de número único editada pelo piauiense e por Wally Salomão.

Não é raro vermos por aí uma monografia se tornar livro com conteúdo que valha a pena. Pergunto a que ela credita a empreitada e sobre o processo. “Ao trabalho. No fundo, já venho trabalhando nisso faz alguns anos... Quando a monografia ficou pronta, acabou circulando por algumas mãos, e isso rendeu muitos estímulos interessantes”, diz. “Mas o projeto gráfico se radicalizou totalmente quando aprendi a 'manipular' o programa InDesign, pois aí as opções foram ampliadas rumo à experimentação total, aprofundando a fusão entre os textos e as imagens.”

O livro já teve lançamento em São Paulo, na programação da Balada Literária, organizada teimosa e ousadamente pelo escritor e agitador cultural Marcelino Freire. Isis lembra os dias de Pauliceia: “O livro começou a ser literalmente lançado no dia em que chegamos a Sampa: lançado direto nas mãos de algumas figuras! [O compositor e parceiro de Torquato Jards] Macalé agradeceu, Zé Celso [Martinez Correa, dramaturgo] berrou 'TORQUATO! EU AMO TORQUATO!'. E assim o lançamento do livro foi rolando todos os dias, até o último, quando ele acabou sendo 'lançado' e se misturando a vários outros títulos, todos de poesia. A receptividade foi ótima, os livros fluíram por várias mãos, e até Thiago, filho de Torquato, encontrou O Risco do Berro e se amarrou... Em contrapartida, vai rolar agora a Balada Antiliterária, em Teresina, onde tudo vai rolar efetivamente em torno de Torquato. Uma noite que promete render belas homenagens ao poeta, que completa 45 anos de morte”.

O Risco do Berro – Torquato Neto, Morte e Loucura será lançado na segunda-feira 11 de dezembro, no Teatro 4 de Setembro, na Praça D. Pedro II, na capital piauiense, ocasião em que será exibido o documentário Torquato Neto – Todas as Horas do Fim, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, além da realização de uma mostra com mais de 160 caricaturas de Torquato, assinadas por grandes caricaturistas de todo o mundo.

Isis confessa as expectativas: “As mais positivas! Desde o primeiro contato, sempre recebi palavras de incentivo da galera de Teresina! Vamos todos no espírito de homenagem ao poeta, será uma festa! A Balada Antiliterária Torquato Neto 2017 será divina, maravilhosa!”.

Como o próprio afirmou em sua coluna “Geleia Geral” de 14 de setembro de 1971: “Quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi”.

Torquato partiu aos 28 do primeiro tempo, há 45 anos, mas seguirá berrando por um bocado de tempo, ainda bem.

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