por Deise Costa e Tiago D'Ambrosio

Formado por Thiara Grizilli, Thierry Freitas, Ana Carolina Roman, Caio Guedes, Lara Rivetti, Arnaldo Branco e Leandro Santos, o coletivo Sem Título, s.d é um núcleo de pesquisa e produção em arte contemporânea.

O grupo – integrado por pesquisadores de diversas áreas – fala sobre sua trajetória e comenta temas como o financiamento a projetos artísticos e culturais.

Observatório: Como o grupo se formou?

STsd: O nosso coletivo tem sua origem ligada a um grupo de estudos formado por estagiários do Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma). Orientado inicialmente por Rafael Vogt Maia Rosa e, posteriormente, por Ana Cândida de Avelar, ele investigava temas relacionados à arte contemporânea, teatralidade e performance. Nesse grupo, todos os nossos estudos e reflexões teóricas nos serviam para propor tanto atividades às crianças que visitavam o Ceuma quanto iniciativas envolvendo artistas, críticos e público especializado. E essa proposta de transformar ideias e estudos em realizações concretas nos levou a formar um coletivo independente em 2014.

Nossa grande motivação é construir um espaço de diálogo entre pesquisadores, público e artistas e, com isso, estimular um discurso crítico do público acerca da arte contemporânea e seus temas correlatos. Nós nos consideramos um grupo de pesquisadores-mediadores-produtores culturais que busca expandir a polifonia discursiva sobre arte e cultura e encontrar interlocutores para seu trabalho de pesquisa.

Embora conte com artistas, o coletivo é maciçamente formado por pesquisadores de diferentes áreas. Além disso, o grupo está atualmente vinculado à Universidade de São Paulo (USP) através do Ceuma. Vocês podem falar um pouco sobre esse caráter acadêmico e multidisciplinar e sobre o modo como esses fatores impactam o trabalho de vocês?

O caráter multidisciplinar está presente desde o início de nosso trabalho: somos pesquisadores de artes visuais, arquitetura, letras, história e geografia. O Núcleo de Pesquisa e Mediação do Ceuma tem esse caráter. O diálogo entre diversos campos permite que a arte seja entendida a partir de sua real complexidade formal, cultural, social e política.

Assim, desde o início, ao nos debruçarmos como pesquisadores em nossos objetos de estudo, fomos levados a autores e a entendimentos muito diversos da arte contemporânea, pois constantemente somos interrogados sobre pontos de partida e pressupostos discursivos. Desse modo, entender a multiplicidade de leituras da arte e da estética é também um exercício político de alteridade e é nele que acreditamos.

O coletivo realizou seu primeiro evento oficial a partir de pesquisas sobre a arte da performance. De onde partiu a ideia de pesquisar essa expressão artística? E quais são as especificidades de um evento desse gênero?

A performatividade e gestualidade na arte contemporânea estiveram presentes em nosso grupo de estudos desde o final de 2013. Quando nos unimos para formar o coletivo e pensar nosso evento, foi unânime a escolha da performance como o primeiro tema. Parte dessa escolha foi motivada pelo fato de que o Ceuma, com mais de 20 anos de produção em arte contemporânea, ainda não tinha explorado a fundo esse gênero – falamos de “gênero” aqui de maneira consciente e considerando todos os debates do evento proposto.

Idealizamos esse nosso evento [chamado O que Não É Performance?] a partir de um tríptico: mostra de performances, quatro mesas de debate sobre o gênero e uma exposição. Por sermos um grupo iniciante atuando em uma instituição tradicional, tivemos a preocupação de criar um evento que pudesse reunir tanto performers iniciantes quanto artistas com longa trajetória de pesquisa na arte da performance. Para isso, abrimos uma convocatória. Fizemos uma seleção entre as mais de 40 propostas recebidas e as organizamos junto com as performances dos artistas convidados. Durante o processo de realização do evento, percebemos que a performance é uma linguagem com demandas específicas de produção relacionadas à garantia das condições necessárias para a realização do trabalho artístico, o que muitas vezes se mostra como um grande desafio para o produtor pois, além de tudo, ele deve ter em vista questões institucionais e de segurança do artista e do público.

A produção teórica também foi importante. A partir de quatro temas (a performance como gênero, a interdisciplinaridade do gesto performativo, o corpo do performer e a institucionalização da performance), convidamos pesquisadores de diversas instituições (universidades e galerias, por exemplo) e áreas (antropologia, música, teatro etc.) para discutir e compartilhar suas pesquisas com o público. Por fim, nossa exposição apontou novos modos de pensar as ações ocorridas nos espaços do Maria Antonia. Resolvemos expor os “vestígios” das ações e gerar diálogos com outras obras também selecionadas. Em razão de sua duração, a exposição foi se completando ao longo do mês em que o evento ocorreu e só se finalizou depois de todas as performances terem sido apresentadas.

Vocês já escreveram algum projeto para editais de fomento à cultura? Como encaram esse modelo de financiamento?

Nosso primeiro evento funcionou com o apoio financeiro e estrutural do Ceuma e do Teatro da Universidade de São Paulo (Tusp). A ideia, a partir de agora, é continuar colaborando com o Maria Antonia e expandir as propostas a novos espaços. Para isso, pretendemos explorar diferentes formas de financiamento e apoio (editais, crowdfunding, patrocinadores e contratantes). Recentemente, nós nos inscrevemos no edital de mediação do Centro Cultural São Paulo e estamos aguardando o resultado. Além disso, nós nos inscrevemos no edital da Fundação Nacional de Artes (Funarte) no final do ano passado, e não fomos sequer para a avaliação, pois aparentemente um documento deixou de ser anexado e perdemos os prazos para entrar com recursos.

Nossa experiência com captação de recursos e financiamento ainda é muito pequena, mas já pudemos perceber que esse processo exige um nível alto de profissionalismo em termos de escrita de projeto e de conhecimento dos mecanismos jurídicos. Agora, teremos de nos debruçar também no entendimento desses instrumentos.

Em que linha vocês pretendem encaminhar as futuras pesquisas do Sem Título, s.d? Existe algum projeto de expansão das pesquisas e discussões para outros espaços?

Reservamos parte do segundo semestre para pensar a realização do livro com diálogos críticos acerca de nosso evento. Estamos convidando críticos e pesquisadores para escrever sobre as performances do O que Não É Performance?. Além disso, a ideia é ter na publicação uma reunião de fotos, relatos das palestras e, possivelmente, conteúdo inédito sobre o tema. Pretendemos publicar e principalmente disponibilizar todo o conteúdo de forma on-line e gratuita. Neste momento, ainda desenvolvemos o nosso próximo projeto. Porém, também temos discutido e observado a concentração de atividades culturais. Com isso, pensamos em desenvolver projetos para além do eixo Sul-Sudeste e capitais. O acesso à cultura deveria ser pensado em outra escala, por isso, estamos levantando dados sobre outros coletivos e considerando possíveis atividades em conjunto.

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