por William Nunes de Santana

 

Quando Bira Lourenço era criança em Porto Velho (RO), ouvia um vizinho tocar saxofone, outro tocava berimbau, assistia à banda marcial da Guarda Territorial, ouvia rádio, e, assim, a curiosidade e o ouvido atento do ainda menino por esses e outros sons não demoraram muito a aflorar. Quando ganhou de sua mãe um tambor de plástico, o presente o “despertou para tocar percussão, daí a instalar as latas nos galhos das árvores do quintal foi um pulo”, lembra Bira.

Hoje, formado em música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bira é percussionista, pesquisador e manipulador de sons, além de ter atuado como professor de percussão em projetos educacionais para alunos de escolas públicas, em projetos de ressocialização e tantos outros. Por meio de suas pesquisas sonoras, criou o espetáculo Sons de beira, obra percussiva registrada em álbum em parceria com o músico Catatau Batera – ouça aqui ou nas plataformas de streaming.

A fotografia colorida mostra o músico Bira Lourenço. Ele é um homem negro com barba e cabelo brancos, que está usando uma faixa vermelha segurando o cabelo. Também usa óculos e uma camisa azul clara. Ao fundo, diversos instrumentos de percussão estão pendurados na parede.
O músico Bira Lourenço é responsável pelo projeto Sons de beira (imagem: Bárbara Almeida)

O projeto parte de uma pesquisa sonora em ambientes naturais, com ou sem a intervenção humana, com a possibilidade de construir um trabalho artístico que represente as sonoridades particulares da região da Amazônia. Em Sons de beira, os timbres, os ritmos e os sons do cotidiano amazônico estão presentes por meio de elementos e objetos diversos, como ouriço de castanha, sementes, pedaços de madeira, água e vara de pescar, que resgatam memórias auditivas de beiras de rios, com seus mitos, lendas, causos e afazeres.

“Para mim, a paisagem sonora do cotidiano é música. Os afazeres, as movimentações, as brincadeiras, os ofícios etc. carregam sonoridades que compõem essa paisagem. Há ainda um repertório de sons e ritmos que compõem essa ambiência sonora, pois o beiradão tem também funk, baião, carimbó e tudo mais que a mídia oferece para consumo imediato”, diz Bira. Para ele, “a escuta no cotidiano depende da relação que temos com o ambiente e quanto de pertencimento há ao lugar onde estamos. Também de quanto somos tocados pelas sonoridades, quais sensações experimentamos e de que forma nossas memórias são instigadas”.

O processo de transformar esses sons em música partiu das pesquisas, mas também de histórias de famílias e de outras vivências na região amazônica, além de muitos experimentos. “A concepção das peças tinha como foco uma leitura artística, uma expressão das sensações experimentadas nos processos, uma forma de construir um conjunto sonoro provocativo, que acionasse as memórias mesmo de quem não vive na Amazônia”, explica o percussionista.

Oficinas on-line

Por causa da pandemia, Bira passou a desenvolver oficinas on-line. Com o apoio do Rumos Itaú Cultural 2019-2020, essas oficinas temáticas foram gravadas e agora são transmitidas por meio do site do artista – biralourenco.mus.br – e de seu canal no YouTube. Ao todo, são três episódios, exibidos nos dias 6, 7 e 8 de abril, às 21h, nos quais Bira apresenta um percurso criativo ilustrado com peças do espetáculo.

“Um fazer musical de maneira simples, acessível a qualquer pessoa, músico ou não músico. A ideia é instigar essa percepção do ambiente em nosso entorno, uma leitura sonora do cotidiano, representado através desse laboratório sonoro do universo amazônico”, comenta. As oficinas ficarão disponíveis nos canais do artista.

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