FurmigaDub e Seu Bando: projeto registra pesquisa musical com mestres da cultura popular
21/05/2019 - 16:28
Coco de embolada, ciranda, caboclinho, maracatu rural, baião. Arraigado ao lugar onde nasceu e fortemente influenciado por essas raízes para criar suas produções, o músico e produtor paraibano Fabiano Formiga faz do encontro desses e de outros ritmos da cultura popular nordestina com as batidas da música eletrônica contemporânea uma ferramenta de propagação do cancioneiro regional para novos públicos.
Neto de clarinetista e filho de engenheiro audiófilo, Fabiano, que é natural de João Pessoa (PB), formou-se em música pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Apesar de ter tocado por mais de dez anos nas orquestras sinfônicas do Estado, trabalhado em estúdio de gravação e passado por inúmeras bandas, foi na carreira solo e na música popular que acabou se descobrindo.
Desde 2009, ano em que criou o projeto FurmigaDub, além de compor suas próprias canções, o músico se dedica ao resgate, à gravação e à disseminação de composições de mestres da música popular do Nordeste. O trabalho realizado pelo artista já resultou em produções como “Ainda Dapadá”, cantoria de coco de roda composta por Anita Garyballdi, dona de casa de Campina Grande, na Paraíba, que, por meio da faixa, já foi ouvida dentro e fora do país.
Com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural, parte dessa pesquisa musical será agora registrada em um disco e em quatro minidocumentários dentro do projeto FurmigaDub e Seu Bando. “Antes do edital eu já estava sentindo a necessidade de fazer um vídeo explicando quem eram as pessoas por trás das músicas. O pessoal gostava dos sons, mas não sabia quem eram os compositores, então a ideia desse trabalho é registrar tanto o trabalho deles quanto a presença”, conta.
Resgate e registro
Além de Anita Garyballdi, três mestres da cultura popular foram resgatados por Fabiano: Mario Beserra da Silva, conhecido como Marinho, e Alex Madureira, ambos conterrâneos de Formiga; e Edite José da Silva, a Dona Edite, que lidera o grupo de coco da comunidade quilombola Caiana dos Crioulos, localizada no município paraibano de Alagoa Grande. “Eu já era discípulo deles. [...] E cada um tem uma forma diferente de passar seus conhecimentos. Por exemplo: a Caiana é mais tradicional enquanto o Madureira e o Marinho são mais contemporâneas”, observa Fabiano sobre o processo de escolha dos nomes.
As gravações dos quatro minidocumentários, cada um sobre um mestre diferente, bem como de suas respectivas participações no disco de Formiga ocorreram na Paraíba, em dezembro do ano passado. Em relação aos vídeos, além de mostrar a história de vida desses personagens, a ideia era abordar o processo criativo de cada um deles, seu envolvimento com a música e a cultura populares, bem como a importância para a comunidade em que vivem e a constituição da memória e da identidade locais.
“Fazer esses registros foi uma satisfação e um sonho realizado. Sinto que foi satisfatório até para o pessoal da equipe que não conhecia o trabalho deles. Durante as gravações sentimos que estávamos ajudando a cultura popular a não cair no esquecimento”, lembra. De volta à cidade de São Paulo, onde reside há aproximadamente três anos, Fabiano iniciou as etapas de edição dos vídeos e de gravação do disco em estúdio.
Difusão
Composto de seis faixas, sendo duas realizadas em parceria com a Caiana dos Crioulos e duas com a Anita Garyballdi, o disco será disponibilizado em vinil, para DJs e colecionadores, e também em formato digital. Tanto ele quanto os minidocumentários poderão ser acessados por meio de um site, previsto para entrar no ar em junho deste ano.
Além do site, que servirá para a documentação e a divulgação do trabalho do artista, está prevista a realização de dois shows de lançamento do trabalho: um em João Pessoa, no Teatro de Arena do Espaço Cultural José Lins do Rego, e outro em São Paulo, no Itaú Cultural. As apresentações ocorrerão em 29 de junho e 27 de outubro, respectivamente.
Apesar de preferir não criar expectativas, Fabiano é otimista em relação à finalização do projeto. “Vamos celebrar esse registro, que é tão importante, principalmente hoje, que veem quem promove a cultura e o pensamento como inimigo. Isso deveria ser enaltecido, não recriminado. Vamos celebrar as parcerias, a cultura popular. O que pode nos salvar é isto: a nossa cultura e a nossa história”, enfatiza.