Revista Observatório 30 | Por uma gestão para a diversidade
06/12/2021 - 09:08
por Jan Moura - https://orcid.org/0000-0003-3587-0463
Mato Grosso tem sua economia baseada fortemente no agronegócio. Os interesses políticos, os cursos de formação superior e as políticas de incentivo comercial voltam-se basicamente para esse nicho, o que acarreta uma enorme discrepância no desenvolvimento de outras áreas, em especial as artísticas e culturais. Esse fato é comprovado pela quase inexistência de cursos superiores ou regulares para capacitação profissional no campo das artes até 2017.
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O desenvolvimento das artes cênicas se deu no estado fundamentalmente pela prática de resistência de mestres da cultura.
Assim como por iniciativas muito importantes que incluíram cursos livres e projetos de circulação oferecidos pelo Sesc Mato Grosso.
Atualmente, a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso tem trabalhado para promover mudanças que possam garantir um novo cenário para o teatro e para a cultura do estado. Começo citando uma das ações que vejo como mais importantes para o desenvolvimento do teatro mato-grossense, que é a criação e a manutenção da MT Escola de Teatro.
Em 2017, em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), a Secretaria de Estado de Cultura criou o curso superior tecnológico em teatro, que, ainda em seu quinto ano de existência, tem construído uma nova história para as artes cênicas locais. A principal missão do curso é proporcionar uma formação avançada por meio de um sistema pedagógico que valorize o potencial individual e coletivo de cada discente.
Sobre as outras estratégias estaduais para o desenvolvimento das artes cênicas, cito o trabalho de ampliação e democratização do acesso aos recursos públicos para o fomento à cultura.
Dentro da rede produtiva da cultura, temos manifestações que conseguem uma projeção financeira maior, especialmente as ligadas ao audiovisual de entretenimento e aos grandes shows musicais, que recebem investimento privado e são o que chamamos de indústria cultural, movimentando bilhões no mundo todo. E temos também manifestações que não conseguem alcançar esse patamar sem precisar abrir mão daquilo que as caracteriza. A produção ligada à memória da sociedade, às manifestações tradicionais provenientes de práticas sociais de populações originárias e a manifestações como a arte e o teatro contemporâneos deve ser incentivada, e não somente pela iniciativa privada, pois a ideia de lucro a todo custo nem sempre atende às necessidades de salvaguarda da diversidade cultural.
Não adianta avançar economicamente e ser um estado campeão no agronegócio se o nosso povo é pobre de repertório cultural.
Precisamos garantir o acesso à diversidade de manifestações e a uma educação emancipadora, assim como o direito de escolher o que consumir culturalmente. E isso é feito com fomento, com leis de incentivo à cultura.
Entre as tônicas que nos guiam na atual gestão da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso está um princípio importante, o da diversidade e da cultura como direito. Acredito ser essa a grande mudança que estamos construindo nesse processo. Somente por meio da expressão da diversidade podemos construir uma gestão cultural democrática e potente, capaz de provocar a ampliação de horizontes. E, para dar conta da democratização do acesso, é preciso elaborar políticas públicas que reafirmem a cultura como um direito.
Nossos editais têm trazido algumas estratégias para alcançar esses objetivos: a primeira é a garantia de quantidades mínimas de projetos para alguns segmentos culturais historicamente excluídos e invisibilizados. A segunda estratégia tem sido a adoção de critérios de seleção que, além de levar em conta a excelência da proposta, a qualificação da equipe e os seus efeitos multiplicadores, possam equilibrar algumas problemáticas de exclusão social que percebemos nos editais. Estabelecemos critérios sociais que têm como missão equilibrar a balança do acesso, democratizar o quanto for possível os recursos e ampliar para outras populações o direito, garantido na Constituição brasileira, de acesso à fruição e ao fazer cultural.
Além disso, estamos desconstruindo algumas diferenças de acesso e fazendo uma espécie de reparação histórica, com a participação ampliada de povos tradicionais, da população LGBTQIA+ e de comunidades ribeirinhas e periféricas, assim como a equalização da participação de mulheres e de outros municípios que nunca tinham buscado recursos nos editais estaduais. Estamos desenvolvendo, assim, uma nova forma de pensar gestão pública para a cultura, que faça sentido para o novo momento que estamos vivendo e que possa ser resposta para os desafios da contemporaneidade e da busca por equilíbrio social e democrático.
Como citar este artigo
MOURA, Jan. Por uma gestão para a diversidade. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 30, 2021. Disponível em: [https://www.itaucultural.org.br/secoes/observatorio-itau-cultural/revista-observatorio/por-uma-gest%C3%A3o-para-diversidade]. Acesso em: . DOI: https://www.doi.org/10.53343/100521.30.06
Jan Moura é mestre e doutor em estudos de cultura contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em gestão cultural pelo Senac. É secretário adjunto de Estado de Cultura de Mato Grosso.
Expediente da Revista Observatório 30