Paixão por Salvador e pela música brasileira: conheça as influências de Péricles e Leo Cavalcanti
22/02/2019 - 14:25
por Marina Lahr
Dois em um solo. O título escolhido por Péricles e Leo Cavalcanti para o show em que se apresentam juntos antecipa a união de estilos individuais e a harmonização dos contrastes familiares, construídos principalmente pela distância de gerações entre pai e filho.
Influenciados por diferentes artistas, gêneros e épocas, os cantores e compositores compartilham a seguir um pouco de seus universos e indicam seus interesses para além da esfera musical. Confira abaixo.
[LIVRO]
Péricles: Os Sertões, de Euclides da Cunha
“Sempre indico esse livro. Eu mesmo demorei um pouco para ler, só li depois dos meus 60 anos, porque não é um livro muito fácil. É, sem dúvida nenhuma, um dos mergulhos mais profundos sobre o Brasil e um dos livros mais belos já escritos. É fundamental. Se você não conhece, leia.”
Leo: Poemas da Recordação e Outros Movimentos, de Conceição Evaristo
“É um livro bem curtinho, que li recentemente, de poemas lindos. Conceição escreve lindamente sobre ancestralidade e sobre o que é ser mulher negra no Brasil, tudo de um jeito muito profundo e tocante, acho que vale a pena.”
[DISCO]
Péricles: Ben, de Jorge Ben Jor
“Existem vários discos que eu indicaria, mas escolhi esse pois tem As Rosas Eram Todas Amarelas, Fio Maravilha e a maravilhosa Que Nega É Essa.”
Leo: Cuban Soul, de Cassiano
“É um dos discos que marcaram minha vida. É de uma riqueza musical muito grande e as músicas são uma mais linda que a outra. Sou apaixonado pelo Cassiano. Acho que ele é um dos grandes mestres da música e infelizmente ainda pouco reconhecido no Brasil. A obra dele é gigante.”
[CLIPE]
Péricles: "Sou um Bicho", de Péricles Cavalcanti
“É difícil escolher, então vou falar de um que fizeram de uma música minha, da canção Sou um Bicho, e que foi dirigido pela Roberta Bonoldi. Esse clipe é o meu mais recente, feito sobre um single recente também, e eu posso falar com toda a certeza, porque não fui eu que dirigi, que é muito bonitinho.” Veja aqui.
Leo: "Ainda Aqui Sonhando", de Leo Cavalcanti
“Aproveitando a deixa do meu pai, vou escolher o último clipe que lancei e que gosto muito. Foi produzido pelo Usina Filmes em Salvador e as gravações foram na praia e na minha casa.” Veja aqui.
[FILME]
Péricles: Assunto de Família, de Hirokazu Kore-eda
“Parece um filme de neorrealismo italiano ou até mesmo os filmes japoneses do pós-Segunda Guerra. Recomendo muito.”
Leo: Fevereiros, de Marcio Debellian
“É um dos filmes documentários mais lindos que já vi. É muito benfeito, fala lindamente sobre a Bethânia e sobre o Brasil. Acho que ele fala sobre o melhor do Brasil, sabe? Tem imagens lindas dos anos 1970 e também da Mangueira, quando Maria Bethânia foi o enredo e a escola ganhou. É realmente deslumbrante e acho que todo brasileiro deveria ver.
[CIDADE NO BRASIL]
Péricles: Salvador, na Bahia
“É a terra da minha mãe e onde meu filho mora agora. Em Salvador eu gosto de tudo, do Porto da Barra, principalmente, e da Ribeira – que descobri ser a terra da Margareth Menezes, onde ela nasceu e ainda tem atividades. Com certeza é a cidade aqui no Brasil que eu mais gosto.”
Leo: Salvador, na Bahia
“Salvador é a minha casa agora e eu amo muito. É uma cidade com uma energia absurda, lá tem toda uma cultura do afeto, onde as pessoas são mais abertas. Faz calor, tem o mar mais lindo, a música mais linda e a comida mais maravilhosa. E se fosse para dizer algum lugar específico eu falaria Porto da Barra, que é a praia mais-astral.”
[LUGAR EM SÃO PAULO]
Péricles: Vila Madalena
“Existem muitos lugares que eu gosto em São Paulo, porque fui criado aqui. O Bixiga é bem bacana, o Baixo Augusta, a Avenida Paulista. Tem muita coisa boa realmente, mas o que eu adoro mesmo é a Vila Madalena, onde moro atualmente.”
Leo: centro da cidade
“O centro de São Paulo é um lugar de contradições profundas, mas com muita vida. Tem decadência também, é claro, mas as coisas possuem uma humanidade ali, bombando. Muitas atividades incríveis, movimentos artísticos sempre rolando, enfim, é um lugar muito interessante para entender a dinâmica da cidade grande.”
[MOMENTO DA MÚSICA BRASILEIRA]
Péricles: década de 1930
“Foi uma época boa, na qual tinha grandes nomes: Ary Barroso, Noel, Sinhô – que ainda estava em atividade –, Ismael Silva, Wilson Batista, Assis Valente, por exemplo; além de Carmen Miranda e Orlando Silva. Esse tempo foi muito bom.”
Leo: atualmente
“Eu diria que agora é o momento que prefiro porque é um período muito amplo, variado, com muita produção sendo feita e artistas incríveis surgindo e produzindo novas linguagens. O funk, por exemplo, eu vejo que existe nele uma potência criativa absurda e que às vezes é pouco reconhecida porque as pessoas têm ainda muito preconceito. As coisas alternativas que estão nascendo também são muito boas. Na Bahia mesmo tem o Àttøøxxá, que é uma banda inacreditável, o BaianaSystem e tantas outras. Aliás, Salvador é – a Bahia sempre foi e continuará sendo – um celeiro de boa música; por isso acho que é um momento muito legal da música brasileira.”
[ARTISTA]
Péricles: Thelonious Monk
“Um gênio. Foi compositor, músico e pianista. É sem dúvida o artista que mais admiro.”
Leo: Cassiano
“É um cara que cuida de todos os aspectos da música e que tem uma musicalidade absurda. A obra dele me toca profundamente e me identifico com ele por também ser compositor e produtor musical, então tudo faz parte. Ele é um multi-instrumentista surreal.”