Miró da Muribeca, poeta e cronista recifense, faleceu na manhã deste domingo (31), aos 61 anos. A notícia foi dada pelo próprio perfil do artista no Instagram. Nascido João Flávio Cordeiro da Silva, em 6 de agosto 1960, estava perto de completar mais um ano de vida. Ganhou o apelido de Miró jogando futebol com os amigos na periferia de Muribeca – uma alusão ao atleta Mirobaldo, que na época jogava pelo Santa Cruz.
O bairro periférico de Muribeca, casa de Miró por muitos anos, trouxe para o artista o olhar atento às questões sociais e políticas, abordando o sentimento do povo recifense, das alegrias e das tristezas, entre elas a violência cotidiana sofrida por moradores da região, da qual ele mesmo era atingido.
Suas palavras estão integradas aos ventos, cheiros e paisagens de Recife. É figura conhecida de quem frequenta as ruas, os bares e o circuito artístico da cidade – Miró se fazia presente declamando e performando seus poemas. Escritor contemporâneo e conterrâneo, o pernambucano Marcelino Freire ressalta a importância de Miró para a capital do estado:
"Estou agorinha no Recife. Hoje à tarde eu iria visitar Miró. Não deu tempo... o poeta nos deixou. Mas a poesia dele fica em cada pedra, canto, esquina do Recife. As feridas da cidade ele conhecia bem. Seus versos tocavam fundo o chão deste lugar. É 'imortal' porque não era chá, era chão. Tem a Minas de Drummond, a Granada de Lorca e o Reciferido de Miró. Um dos maiores poetas brasileiros. E põe brasa e brasileiro nisso. O criador do Alegrismo. O poeta corporal e visceral. Agora se junta a Marco Pezão em um Sarau Eterno. Gratidão, meu irmão e poeta. Te amarei para sempre", diz Freire.
Nos dias 22, 23 e 24 de julho, a vida e a obra de Miró esteve presente no palco do Itaú Cultural através do espetáculo Urubu come carniça e vôa, do Grupo Clariô de Teatro. O grupo, de Taboão da Serra, em São Paulo, apresenta a peça desde 2011. Em seu perfil no Instagram, a atriz e diretora Naruna Costa, integrante do Clariô, escreveu que "é uma honra poder celebrar a existência de um ser tão maravilhoso como Miró. É uma pena que tantas dores o cerquem. Ele homem preto. Poeta das ruas. Sobrevivente. Ele que encanta a tanta gente com seu jeito único de transformar a dor em vida e transbordar amor".
Sua obra também foi matéria de pesquisa e criação do Grupo Magiluth de Teatro, de Recife.
Miró da Muribeca publicou diversos livros de forma independente ou com a colaboração de amigos, entre eles, Quem descobriu o azul anil? (1984), Para não dizer que não falei de flúor (2004), DizCrição (2012), aDeus (2015) e Miró até agora (2016), este último uma coletânea de todos seus livros. O mais recente livro é O céu é no sexto andar (2021).