Expedição Brasiliana: coloque a mão na massa
Vestígios de pão foram encontrados na Índia há mais ou menos 5 mil anos, os egípcios assavam-no em forno de barro e os antigos gregos registraram 72 tipos que faziam desse alimento. Ele já foi uma moeda de troca e o próprio salário, e ainda hoje usamos a expressão “ganhar o pão de cada dia” com o mesmo sentido. Ser padeiro foi de atividade doméstica à imperial, sendo um dos trabalhos mais almejados na Roma Antiga. Ainda atualmente, em alguns lugares do mundo, é um grande privilégio se casar com alguém de tal profissão. O fato é que contar a história do pão é contar a história da subsistência, da cultura, da arte e da própria humanidade.
Na tumba de Ramsés III há paredes inteiras com imagens de pessoas fabricando esse alimento e moldando-o em formas redondas, ovais, espiraladas e até de animais diversos – numa aproximação com a arte da escultura. Também na Idade Média os cozinheiros preparavam tortas e bolos extremamente altos, alguns chegando a medir mais de 2 metros de altura. Para que fosse possível realizar algo assim, era preciso ter grande habilidade técnica e certo conhecimento de arquitetura e matemática. E, assim, uma parte da panificação e da confeitaria se encaminhou para um lado artístico e artesanal.
Não à toa, foi no fim do período medieval que surgiram numerosos livros de receitas e eles se tornaram efetivamente um gênero textual – embora já existissem escritos desse tipo, pelo menos, desde a antiga Babilônia, onde várias receitas foram entalhadas na pedra.
Guardá-las é fundamental para reproduzi-las mais tarde – e, principalmente, para as futuras gerações. Mas os admiradores da comida que não necessariamente cozinham sentiram a necessidade de gravar também a aparência do que era servido. De um lado, então, há imagens preocupadas, sobretudo, com a visualidade dos alimentos como objetos de apreciação. De outro, aquelas relacionadas aos aspectos científicos de uma espécie comestível ou históricos e culturais, pois o que se come e como se come são um jeito de conhecer um povo.
A mandioca, por exemplo, é nativa do Brasil. Desde tempos remotos, as pessoas que aqui vivem a comem de muitas maneiras. Uma delas é como um tipo de pão achatado e branquinho conhecido por tapioca. Essa mesma raiz, que hoje pode ser encontrada em vários lugares do mundo, é consumida na Indonésia como uma espécie de macarrão. Isso demonstra o pensamento, os costumes e as preferências de uma sociedade.
Alguns alimentos, no entanto, ficaram esquecidos, enquanto outros passaram a ser produzidos e consumidos em grande quantidade. Muitos dos matinhos que crescem em calçadas nas ruas eram, no passado, verduras muito adoradas. Pesquisadores de diversas áreas se dedicam a identificar e estudar esses alimentos, que chamam de plantas alimentícias não convencionais, justamente porque, em algum momento, elas deixaram de ser. Parte de olhar nosso país é redescobrir o que desapareceu das mesas ou nem sequer apareceu – a terra brasileira é farta e ainda há muito a conhecer.
Essas expedições brasilianas, de que todos nós podemos participar de algum modo, mostram que as coisas não estão tão desconectadas como às vezes pode parecer. Arte e ciência são pares e, em muitas ocasiões, inseparáveis. Comida é história, tradição, conexão com os antepassados e com quem a compartilhamos, mas também é beleza, arte e prazer.
Para inspiração, aqui deixamos algumas referências:
Bananas;
Bananas;
Bananas;
Chocolate Tree;
Cinnamon;
Tea Tree;
Cardamum;
Black Pepper Vine;
Natureza-Morta com Frutas (Atribuído);
Fruits du Bresil;
Pilage du Café;
Éplucheuses de Mandioca;
La Cuisine a la Roça;
Encaissage et Pesage du Sucre;
O comércio ambulante no Brasil.