Tão jovens! O que os fãs com menos de 25 anos pensam sobre Renato Russo?
11/10/2021 - 09:48
por William Nunes de Santana
Quem nasceu depois de 11 de outubro de 1996 já chegou a um mundo sem a presença física de Renato Russo, célebre cantor e compositor da Legião Urbana. Junto, principalmente, com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, Renato transformou a banda em um dos maiores fenômenos da década de 1980, conhecida como a era de ouro do rock nacional.
Suas músicas, letras, ideias e seus pensamentos nunca saíram do imaginário popular – mesmo hoje, 25 anos após a sua morte. Há toda uma geração mais nova que continua conhecendo e admirando Renato e sua Legião Urbana, mantendo-o vivo.
Existem muitos elementos que contribuem para tal: as regravações de artista contemporâneos, o lançamento de filmes e livros, o fácil acesso às músicas e ao acervo de entrevistas e shows disponibilizados on-line, a criação de grupos de fãs em redes sociais, exposições etc.; ou mesmo as velhas rodas de violão e, sem dúvida, a influência de pais e familiares que viveram aquela época.
A atemporalidade das mensagens transmitidas através das canções é inegável. Afinal, Renato sempre abordou o tempo e a relação com ele de diferentes formas em sua escrita.
Abaixo, fãs com menos de 25 anos – ou seja, que nasceram após aquele longínquo 11 de outubro de 1996 – falam sobre suas relações pessoais com o artista e sua obra.
“[...] Quem me dera ao menos uma vez
explicar o que ninguém consegue entender [...]”
Eu tive meu primeiro contato com Legião logo na infância. Lembro que amava o quão complexas e profundas eram as letras das músicas. E me dói toda vez que lembro que um ser humano como ele já se foi há tanto tempo e eu não tive a chance de presenciá-lo vivo”, diz Alecsia Miranda, de 23 anos, professora de inglês em Barreiras (BA).
“Meu histórico recente do YouTube está cheio de entrevistas e de vídeos ao vivo. Procuro ouvir as interpretações que ele tinha sobre a vida, busco achar as similaridades com as músicas. Vejo muita leveza e ao mesmo tempo muita consciência no Renato. ‘Índios’ me intriga demais, pois existe um Deus ali nas entrelinhas. A sua genialidade me deixa abismada”, completa.
“[...] E se lembrou de quando era uma criança
e de tudo o que vivera até ali [...]”
“Eu escuto Legião Urbana desde bebê, literalmente, porque meus pais sempre gostaram – inclusive, foram em alguns shows. Eles [a banda] são uma inspiração para mim, principalmente o Renato, tanto pelas letras incríveis quanto pela sua voz”, diz Luana Moraes Di Giaimo, de 15 anos e estudante na capital paulista.
“É uma das coisas pelas quais eu mais sou grata aos meus pais: esse gosto pela música que eles me passaram desde sempre. Eles são extremamente musicais. É 100% obrigatório ouvirmos e tocarmos quando estamos juntos em família. Meu pai toca um pouco de tudo, e nós dois cantamos com a minha mãe”, aponta.
“O mais legal de tudo é que as letras são extremamente atuais, mesmo que tenham sido escritas décadas atrás – o que de certa forma é preocupante, já que os problemas daquela época não foram resolvidos. Isso sem falar das obras de arte que são ‘Faroeste caboclo’ e ‘Eduardo e Mônica’, músicas enormes, sem refrão, que contam histórias.”
“[...] Sem amor
eu nada seria [...]”
“Quando ouvi ‘Tempo perdido’, percebi que já me era familiar. Lembro que amei o trecho inicial e ainda mais a letra, principalmente o verso ‘temos todo tempo do mundo’. Quando conheci outras músicas, notei que também sabia algumas frases. Foi então que percebi que cresci ouvindo [Legião Urbana], por influência dos meus primos”, conta Jeferson Trindade da Silva, estudante de biologia de 24 anos em Poções (BA).
“Em 2013, entrei para um grupo de ‘legionários’ no WhatsApp e até hoje mantenho contato com alguns membros. Sou grato demais por ter conhecido pessoas incríveis através do amor pela banda. Também sou apaixonado pelos filmes Faroeste caboclo (2013) e Somos tão jovens (2013), sem contar a ansiedade por Eduardo e Mônica [filme que deve estrear nos próximos meses]”, diz.
“É uma escolha difícil, mas diria que ‘Monte castelo’ é a minha favorita. A letra em si, o jeito que ela trata sobre o amor é muito lindo.”
“[...] Temos todo tempo do mundo [...]”
“Minha mãe cantarolava as músicas ou escutei com ela quando era criança. Depois, fui ouvir por conta própria”, recorda Amanda Castello Branco França, de 19 anos e estudante de arquitetura e urbanismo de São Luís (MA). “Gosto do que ele diz nas letras, das críticas presentes e também da melodia da música em si.”
“É importante continuar falando e ouvindo essas músicas, porque as letras são geniais, ainda se comunicam com os jovens. Sempre haverá alguém que se identifica com elas ou com uma frase impactante. Ele [Renato] foi um artista brilhante, que merece todo o reconhecimento pela sua música durante as próximas gerações”, diz Amanda.
Por isso mesmo, eleger apenas uma favorita não é tarefa fácil: “Estou tentando escolher entre ‘Tempo perdido’, ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Será’ faz tempo, mas acho que a favorita mesmo é ‘Eduardo e Mônica’. Também adoro ‘Índios’ e ‘Pais e filhos’”.
“Quem um dia irá dizer que não existe razão
nas coisas feitas pelo coração [...]”
“Desde que comecei a formar o meu próprio gosto musical, na infância, as músicas da Legião sempre estiveram muito presentes. Lembro que a primeira vez que escutei foi aos 11 ou 12 anos, quando estava no carro com a minha mãe ouvindo rádio. Começou a tocar ‘Eduardo e Mônica’ e ela falou que aquela música era da época dela! Eu achei muito legal o jeito como ela [a canção] conta uma história de amor”, diz Cecília de Paula Martins, de 19 anos e estudante de ciências biológicas na Universidade de São Paulo (USP).
“Meus pais cresceram ouvindo as músicas do Renato, então é natural que eu receba essa influência por parte deles. Eu gostava de competir com o meu pai para ver quem conseguia decorar mais versos de ‘Faroeste caboclo’. Também tenho um carinho muito grande pelos álbuns solo Equilíbrio distante, um dos meus preferidos, e The stonewall celebration concert. Eles marcaram momentos importantes da minha vida, é quase como se tivessem ajudado a moldar quem eu sou hoje”, conta.
“Quando entrei na adolescência, eu vivia escutando Legião Urbana. Acho que as letras se comunicam bastante com o público jovem, e todas as questões e conflitos que ele trabalha nas letras são realmente atemporais”, observa Cecília. “Eu li o livro Só por hoje e para sempre, que é o relato dele dentro da clínica de reabilitação. A influência do Renato vai muito além da música. Ele marcou uma geração inteira. É legal conhecer um pouco sobre a sua história e sobre quão humano ele sempre foi.”