Qual é a história da sua maior saudade?

A maior saudade que estou tendo neste momento é relacionada a minha adolescência ou pré-adolescência, não sei bem. É de um tempo quando eu e meu irmão mais novo vivíamos livres pelos rios próximos à aldeia onde morávamos, chamada de Yahã Itú. Nós gostávamos de navegar de canoa pelos rios e pescar pequenos peixes. Essa é a minha maior saudade agora, que já era antes da pandemia, mas que se tornou bem frequente. Uma vontade de voltar a esse tempo, de estar com o meu irmão, pescando e mergulhando no rio. É um tempo que gostaria de viver novamente. Livre, no rio, vivendo.

O que o emociona no seu dia a dia?

Muitas coisas me emocionam no dia a dia, depende do dia. Agora tem me emocionado a sensação de me sentir solitário, de não estar com a minha família. Mas, também, um sentimento de ver uma coisa entre os prédios. Em dias bem nublados e chuvosos, sinto falta do sol; sinto falta de ver minhas plantas crescerem. Quando o sol apareceu e vi minhas plantas voltarem a se tornar bem verdes, imaginei-as com flores. Isso me deixa bem sensível e emocionado. Ver como as plantas e a vida conseguem resistir e florescer mesmo em situações adversas e complexas. Como uma planta pode crescer e florescer em uma cidade tão caótica e inóspita para a vida natural? Ver as plantas reagindo aos pequenos raios de sol me dá esperança.

Como você se imagina no amanhã?

Não costumo pensar em como o amanhã virá ou em como eu serei no amanhã. Cada dia é uma experiência que procuro viver de uma forma que me sinta bem e contemplado. Mas, se pudesse pensar agora, me imagino olhando para trás e vendo que construí coisas que foram duras e difíceis, mas que se tornaram boas para mim e para outras pessoas. Acho que me imagino dessa maneira, sabe? Olhando para trás e vendo como pude fazer e construir coisas que deram bons frutos. Ver meus amigos, meus sobrinhos e minhas filhas podendo viver uma vida que só foi possível porque ajudei a construir o futuro nesse presente.

Quem é Denilson Baniwa?

Todas essas perguntas me fizeram pensar em um Denilson Baniwa bem anterior ao Denilson da cidade, da universidade e da luta indígena. Denilson Baniwa é um sonhador. Uma pessoa que nasceu em uma cultura maravilhosa e linda e que sempre imaginou possibilidades mesmo quando elas eram inexistentes. Uma pessoa que, apesar de tudo, nunca desistiu de seus sonhos e desejos. Também nunca abandonou quem ela é, quem ela nasceu. Baniwa. Rionegrina, amazônida. Uma pessoa sonhadora que tem conseguido realizar algumas coisas e que tem sido feliz porque tem mantido sua essência como pessoa livre e de uma cultura linda, que é a cultura baniwa.

Denilson Baniwa (imagem: divulgação)

Um Certo Alguém 
Em Um Certo Alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.

Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais

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