por Milena Buarque Lopes Bandeira

 

Em outubro do ano passado, a cantora Ceumar lançou Espiral, disco que celebra a maturidade de seus 20 anos de carreira. Com um som “imagético, com texturas e nuances novos”, segundo a artista, o novo trabalho reflete questões como o ciclo e a jornada da vida. “Acho que Espiral é um voo novo com as mesmas asas que eu sempre tive”, diz Ceumar.

Com 11 músicas, o álbum seria apresentado pela cantora em um dos shows da programação de abril do Itaú Cultural (IC). Por causa da suspensão das atividades presenciais da organização, o site entrevistou por e-mail a artista, que está em Minas Gerais, “no meio do mato”, neste momento atual.

Este texto dá início a uma série de conversas com cantores, grupos e bandas que se apresentariam no IC nas próximas semanas. São conteúdos pensados para ser desfrutados de longe, em casa.

Ceumar, há 20 anos você lançou o seu primeiro álbum, Dindinha. Qual foi o caminho percorrido até o momento atual de sua carreira?
Desde a feitura de meu primeiro álbum, eu percebi que meu caminho seria muito próprio. Lancei naquela época (em 1999, quase 2000) um álbum superacústico, quase brejeiro, com influências de tudo de que eu gostava. Lembro que várias cantoras faziam discos eletrônicos, já estavam experimentando novidades. Mas Zeca Baleiro e Tata Fernandes, meus parceiros na ideia e na produção, viram que o que eu tinha de mais forte era minha forma de tocar violão e minhas escolhas de repertório. Eles foram fundamentais e não me deixaram fugir do meu próprio estilo. Assim foi que “aprendi” a ser muito fiel ao meu jeito e nunca mais tive dúvidas até aqui.

Em seu show no Itaú Cultural, você tinha a intenção de mostrar ao público como nasceram as músicas de seu disco mais recente, Espiral. Você poderia contar como ele surgiu? E quais foram as suas referências?
O meu disco mais recente, Espiral, vem nascendo desde 2016, quando voltei da Holanda para o Brasil. Estava também me aproximando dos 50 anos, uma idade tão simbólica. Refletindo sobre morte e vida – perdi meu pai em 2017 e me separei também. Esse ciclo me trouxe a ideia da espiral como a nossa grande jornada, e ela foi ficando mais clara. Até que encontrei César Lacerda, que dirigiu o álbum artisticamente e foi me ajudando a encontrar os fios da meada. A ele se juntou o Pincz – que produziu o álbum –, e juntos fomos buscando o som que eu queria: imagético, com texturas e nuances novas. Eu vi e ouvi muitos sons do mundo todo enquanto estive na Europa. Os meninos me trouxeram diversas referências também. Acho que Espiral é um voo novo com as mesmas asas que eu sempre tive.

Você citou algumas pessoas que fizeram e fazem parte de seu caminho na música. Como os diferentes encontros e parcerias ao longo da vida moldaram a sua carreira ou a modificaram?
Todos os projetos colaborativos, shows que vi e de que participei, até os sons das ruas, tudo fica em algum lugar da força criativa. Passei a compor cada vez mais, pois era necessário escoar tantos encontros e trocas que tive ao longo da vida.

O momento atual da música brasileira tem se mostrado extremamente plural e diverso. Como você vê a cena musical hoje? Aliás, o que toca em seu Spotify?
Nossa música sempre foi diversa e riquíssima. Sempre passeio por novos lançamentos, novas vozes, e também ouço discos dos anos 1970. Tem tanta coisa que não saberia por onde começar. Roberto Mendes, Bon Iver, Miriam Makeba, Josyara, Joana Terra e Flávio Tris são os nomes mais recentes no meu Spotify.

Em tempos de isolamento social voluntário – para quem tem esse privilégio –, você poderia nos indicar um álbum, um filme ou série e um livro? Quais são as suas companhias?
Ainda estou me adaptando ao isolamento. Estou em Minas Gerais, no meio do mato, não tenho internet rápida ou TV. Tenho mexido no jardim, plantei árvores e colhi frutas. Ouço passarinhos, a chuva e faço fogo no fogão à lenha. Essas sempre são minhas maiores fontes de inspiração e saúde – mental e espiritual. Mas estou relendo o livro de entrevistas de meu amigo e parceiro Lauro Henriques Jr., Palavras de Poder, com nomes da espiritualidade. Aproveito para ouvir os CDs que ganho de presente, já que são muitos. E, quando estou na cidade e com acesso à internet, falo com amigos para alimentar os afetos.

(foto: Julia Rodrigues)
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