![](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/109744/square_thumb_laminima.melissaguimaraes-85.jpg)
7 documentários nacionais dirigidos por mulheres para ver na “Itaú Cultural Play”
No próximo 7 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Documentário Brasileiro, uma oportunidade anual de celebrar um gênero cinematográfico que é tão fascinante quanto a ficção, mas raramente ganha o mesmo destaque.
No Brasil, como em muitos países do mundo, o documentário costuma ser o formato com maior presença de mulheres na direção. Um levantamento desta coluna feito a partir do mais recente “Anuário estatístico do cinema brasileiro”, publicado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), apontou que 40% dos documentários nacionais que estrearam nos cinemas em 2020 foram dirigidos ou codirigidos por mulheres. O mesmo índice cai para 19% entre os filmes de ficção e fica em zero no caso da animação.
Em minhas conversas com diretoras ao longo dos anos, ouvi diferentes opiniões sobre o motivo de a presença da mulher ser maior no documentário. Algumas mencionaram a necessidade de debater temas urgentes, outras destacaram um especial interesse pelo registro histórico, e quase todas lembraram que filmes de não ficção são em geral mais baratos, podendo ser realizados sem os grandes orçamentos que costumam ser reservados aos cineastas homens.
A coluna aproveita o Dia Nacional do Documentário Brasileiro para recomendar sete títulos dirigidos por mulheres que podem ser vistos gratuitamente na Itaú Cultural Play, a plataforma de streaming do Itaú Cultural.
Eleições
Dirigido por Alice Riff – São Paulo, 2018
Durante três meses, a diretora Alice Riff acompanhou quatro grupos de estudantes que disputavam a eleição do grêmio na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, localizada no bairro Barra Funda, em São Paulo (SP). O resultado é um documentário que oferece duas boas oportunidades ao espectador: entrar no cotidiano de um colégio público, distante de muitos de nós e pouco retratado no cinema; e refletir sobre questões como intolerância, racismo, feminismo e homofobia, que estavam em pauta tanto na votação estudantil quanto nas eleições presidenciais de 2018, ano em que o filme foi realizado. Em tempo: outros quatro documentários de Alice Riff estarão disponíveis na Itaú Cultural Play a partir de 5 de agosto.
![Imagem colorida com quatro jovens posando em meio a prédios e sob o céu azul.](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/108616/resized_eleicoes_poster01.jpg)
Entremarés
Dirigido por Anna Andrade – Pernambuco, 2018
Localizada em Pernambuco, a Ilha de Deus está no centro de um dos maiores manguezais urbanos do Brasil e do mundo. Com esse intrigante lugar como cenário, o curta-metragem da diretora Anna Andrade coloca seu foco na vida e no trabalho das mulheres, que tem sido fundamental para a preservação da natureza e da própria comunidade. Enquanto a câmera mostra o dia a dia das trabalhadoras, elas contam suas histórias e revelam o orgulho de tirar de camarões, caranguejos e sururus o dinheiro que lhes permite dar a seus filhos as oportunidades que não tiveram.
![Imagem do documentário Entremarés, dirigido por Anna Andrade, que mostra uma mulher negra, com cerca de 50 anos, trabalhando descascando fruto do mar.](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/108997/resized_entremares_2.jpg)
Carmen Miranda: bananas is my business
Dirigido por Helena Solberg – Rio de Janeiro, 1994
Nome fundamental do cinema documental brasileiro, Helena Solberg abordou em muitos de seus filmes as questões de gênero, a situação política dos países latino-americanos e sua relação com os Estados Unidos. Todos esses interesses estão de alguma forma contemplados em Carmen Miranda: bananas is my business, documentário que narra a trajetória da cantora luso-brasileira, evidenciando como ela desbravou caminhos em uma indústria machista e teve sua imagem moldada pelos americanos.
Veja também:
>> As mulheres segundo Helena Solberg
![Fotografia da produção do filme Carmem Miranda: banana is my business, com Letícia Monte interpretando Carmem Miranda. Em primeiro plano uma câmera cinematográfica preta está direcionada à atriz Letícia monte, que está em segundo plano. Letícia é uma mulher branca, de cabelo pretos. A atriz está usando chapéu branco e blusa de mangas compridas brancas. Ao fundo, diversas árvores compõe o cenário](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/108451/resized_Let%C3%ADcia_Monte_como_Carmen_Foto_de_David_Meyer.jpg)
Nome de batismo – Alice
Dirigido por Tila Chitunda – Pernambuco, 2017
Eleito o melhor curta-metragem da edição de 2018 do festival É tudo verdade, o filme é um diário da busca da diretora Tila Chitunda por suas origens, algo que também desenvolveria no seu trabalho seguinte, Nome de batismo – Frances (2019). Tila nasceu no Brasil, onde sua família se refugiou em 1975, após fugir da Guerra da Angola. O curta registra a primeira visita da cineasta ao país africano, onde encontra parentes, ouve histórias de família e é provocada a pensar sobre colonização, escravidão, identidade e língua. Em sua narração, ela dialoga com a avó materna, que não conheceu, mas de quem recebeu o primeiro nome: Alice.
![](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/100744/resized_NOME_DE_BATISMO_12.Still044.jpg)
Que bom te ver viva
Dirigido por Lucia Murat – Rio de Janeiro, 1989
O período da ditadura militar tem rendido bons filmes de documentário e de ficção, muitos deles dirigidos por mulheres. Um dos primeiros e mais importantes é Que bom te ver viva, no qual a cineasta Lucia Murat combina ambos os formatos para abordar a experiência de ativistas que, como ela, foram torturadas durante o regime. A narrativa se desenvolve em duas frentes: de um lado, há depoimentos reais de oito presas políticas; de outro, uma personagem ficcional e anônima, interpretada por Irene Ravache, que funciona como alterego da diretora.
![Mulher aparece em foto preto e branca, com os cotovelos em cima de uma mesa de edição de filme. Ela está sorrindo, está com o queixo em uma das mãos e usa cabelos compridos e cacheados.](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/108322/resized_Lucia_Murat_Foto_de_Dudu_Miranda__1_.jpg)
Veja também:
>> Cinema, mulheres e memória: diretoras brasileiras e a ditadura militar
>> Com “Sementes”, diretoras destacam mulheres negras na política e no cinema
Sementes: mulheres pretas no poder
Dirigido por Éthel Oliveira e Júlia Mariano – Rio de Janeiro, 2020
A eleição de 2018 colocou Jair Bolsonaro na presidência, mas também foi notável pelo número de candidaturas autodeclaradas negras, que aumentou 93% em relação à votação anterior. Atentas a essa mobilização, as diretoras Éthel Oliveira e Júlia Mariano acompanharam seis das 4.398 mulheres negras que disputaram cargos legislativos em 2018. Com plataformas distintas, as candidatas tinham em comum o fato de pertencerem a partidos de esquerda e a conexão com o legado da vereadora Marielle Franco, assassinada em março do mesmo ano. Sementes foi realizado por uma equipe majoritariamente feminina, com paridade entre negras e brancas, e incluiu profissionais que faziam sua estreia no longa-metragem, como a diretora de fotografia Marina Alves e a compositora Maíra Freitas.
![Imagem preto e branco que mostra mulheres em um protesto político. Elas estão com o punho fechado apontado para o alto.](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/108998/resized_sementes.jpg)
Yãmĩyhex: as mulheres-espírito
Dirigido por Sueli Maxakali e Isael Maxakali – Minas Gerais, 2019
Este é um dos trabalhos mais importantes de Sueli e Isael Maxakali, cineastas indígenas que têm se destacado nos principais festivais do país. Neste documentário, premiado pelo júri jovem da Mostra de cinema de Tiradentes, a dupla faz o registro de um importante ritual do povo Maxakali: o momento em que os espíritos femininos chamados de yãmĩyhex se despedem da Aldeia Verde, em Minas Gerais. Filmando dos preparativos à festa, Sueli e Isael optam por uma câmera participativa, que acaba por fazer com que o próprio espectador se sinta parte do ritual.
![](https://portal-assets.icnetworks.org/uploads/picture/file/104222/resized_Y%C3%A3miyhex__as_Mulheres-Esp%C3%ADrito.jpg)