Classificação indicativa: Livre
 

Com fluidez, profundidade e, acima de tudo, força. É assim, com características que podem ser atribuídas às águas dos rios e dos mares, que a cantora e compositora Héloa descreve seu mais recente trabalho, o disco Opará, segundo de sua carreira, que será lançado no Auditório Ibirapuera. O show homônimo, no qual a artista será acompanhada por uma banda – formada por Mauricio Badé (percussão e voz), Maurício Fleury (teclados e flauta), Edy Trombone (trombone e percussão), Webster Santos (violão, viola e guitarra) e Pedro Cunha (teclado e sanfona) –, tem a participação de Luedji Luna e Zé Nigro, do grupo Mulheres Livres (formado por sul-africanas) e de representantes indígenas* das etnias Kariri-Xocó, Huni Kuin, Kalapalo e Guarani Kaiowá de diferentes aldeias e estados do Brasil.

Composto de canções autorais e parcerias, o álbum, que tem como fio condutor o ritmo das águas e das marés e a mescla de sonoridades nordestinas, africanas e indígenas, resulta de uma imersão da artista no campo da espiritualidade – de matriz tanto africana quanto indígena –, de seu contato direto com a natureza e com a terra e do resgate de práticas ancestrais e tradicionais aportadas principalmente em Sergipe e na região do sertão.

“Este show é a conclusão do disco Opará, que reverencia a força das águas. Ele tem como inspiração o Rio São Francisco e as várias camadas que a água assume em seu percurso, além das comunidades e dos povos ribeirinhos que habitam suas margens e seus arredores. Inclusive, a aldeia que serve de inspiração para esse trabalho e na qual eu fui consagrada, a Kariri-Xocó, se localiza no Baixo São Francisco”, diz Héloa. “As canções correm com certa suavidade. E para o show a ideia é mostrar essas várias camadas que o próprio curso da água apresenta.”

A artista acrescenta que foi a partir de seus trabalhos anteriores – o disco Eu (2016) e o documentário Eu, Oxum (2017) – que compôs as primeiras canções que falam do universo das águas e da força ancestral advinda do orixá Oxum, divindade que nas religiões de matrizes africanas representa os rios e as cachoeiras. Iniciada no candomblé há quase um ano e meio, Héloa conta que a partir daí percebeu a água e suas camadas como forma de resistência, o que a levou também a um resgate de sua ancestralidade indígena. Segundo ela, a escolha do nome do disco trouxe à tona coincidências linguísticas que ajudaram a ressaltar essa força e o encontro afro-indígena que existe na região do São Francisco.

Opará é um nome em iorubá. Nas religiões de matrizes africanas, principalmente no candomblé, na qual fui iniciada, tem como significado uma qualidade do orixá Oxum, que é a força presente no encontro das águas, do rio com o mar, no choque das águas”, explica a cantora. “Essa palavra também existe na língua indígena dizibukuá, falada pela aldeia Kariri-Xocó, e é a forma pela qual seus integrantes se referem ao Rio São Francisco, que significa rio grande como o mar, rio que traz a força do mar”, diz. “Escolhi o nome do álbum fazendo uma analogia a Oxum, mas percebi que essa palavra assume outras denominações que reforçam esse encontro afro-indígena que existe na ‘barra do rio’. Então, quis trazer isso para o trabalho e aprofundar essa pesquisa para além do candomblé. O Eu e o Eu, Oxum foram o pontapé que desaguou nas águas, no Opará.”

A cantora e compositora, que também é bailarina profissional e atriz, assina ainda a direção artística do disco Opará – com produção de Zé Nigro e coprodução de Mauricio Badé – e do espetáculo, que traz cenário da artista visual Anne Galente e figurino de Amanda Palovic, com trabalhos feitos de maneira manual e artesanal. Héloa ressalta que seu lado multifacetado e o trabalho de produção desenvolvido com a equipe do álbum e do show ajudam a destacar ainda mais uma das características presentes na forma de vida das comunidades de matrizes africana e indígena.

“Não me sinto só cantora, mas artista, e me vejo somando todas essas vertentes em meu trabalho. A música é a trilha sonora do meu movimento, é como se eu estivesse dançando as minhas próprias canções num espetáculo corporal e de vivência”, fala. “Poder pensar em luz, cenário e deslocamento de palco, entre outras questões, me preenche de maneira especial, porque posso trazer essa amplitude da minha formação. E esse trabalho foi muito comunitário, o que também é frequente nas matrizes africana e indígena. Minha equipe trabalha de forma muito horizontal. Estou à frente do processo, mas existe um lugar de diálogo com todos. Cada um deles traz muito de sua assinatura.”

*Representantes indígenas
Grupo Sabuká Kariri-Xocó [etnia Kariri-Xocó (AL)], pajé Txana Kixtin [etnia Huni Kuin (AC)], Grupo Kayatibu [etnia Huni Kuin (AC)], Kapaí Kalapalo [etnia Kalapalo (Xingu)] e Aruan Kaiowa [etnia Guarani Kaiowá (MS)]

Héloa [com interpretação em Libras]
sexta 6 de setembro de 2019
às 21h
[duração aproximada: 60 minutos] 

ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)

[livre para todos os públicos]

abertura da casa: 90 minutos antes do espetáculo

Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Ingresso Rápido e em seus pontos de venda a partir das 13h do dia 23 de agosto. Também estão à venda na bilheteria do Auditório Ibirapuera, nos seguintes horários:
sexta e sábado das 13h às 22h
domingo das 13h às 20h 

 

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