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[Este texto integra uma série de relatos produzidos por integrantes da equipe de atendimento educativo do Itaú Cultural. Nesses relatos, cada educador comenta sua experiência relacionada a uma exposição apresentada no IC, destacando três das obras presentes na mostra.]
por Tonne de Andrade
Neste texto, abordamos a obra do escultor, pintor e desenhista Franz Weissmann (1911-2005), a partir de obras expostas na mostra Franz Weissmann: o Vazio como Forma, realizada em 2019 no Itaú Cultural. Selecionamos três esculturas de diferentes momentos e com diferentes estilos adotados pelo artista, mostrando a diversidade de sua produção.
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Normalmente, associamos as formas geométricas à matemática, portanto, às ciências exatas. Weissmann, no entanto, as liberta, tornando-as artísticas, e reformulando-as em mil combinações. Esse artista fez parte dos movimentos de arte concreta e, depois, neoconcreta; nessa exposição pudemos ver obras suas do início de sua produção, com características figurativas, e, também, a passagem para uma arte totalmente abstrata – o que não quer dizer sem emoção. Weissmann nos faz refletir sobre o que é belo, e sobre como uma simples linha ou uma simples chapa de metal podem ser transformadas em algo que nos encanta.
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Franz Weissmann
Dois Cubos Lineares Virtuais, 1954
Ferro pintado
Coleção MAM, fundo para aquisição de obras para o acervo MAM-SP – Companhia Vale do Rio Doce
Foto: Edouard Fraipont
Cada obra de Weissmann pode ser múltipla. Suas peças convidam o observador a andar em volta, para descobrir suas variações. Assim, de um ponto de visão, vê-se um cubo; de outro, um quadrado, de um terceiro, um hexágono, de maneira que o observador desvenda as complexas formas geométricas que podem brotar de uma simples combinação de linhas.
É assim o caso de Dois Cubos Lineares Virtuais. Nela os formatos apenas se insinuam, precisando ser completados pela imaginação de quem observa a obra. Dessa forma, o subtítulo da exposição ganha sentido prático: o vazio é uma forma em Weissmann. Ou seja, o vazio na peça não significa que algo está faltando, mas que algo pode ser visto sem estar ali. Portanto, a peça se torna inteira graças ao olhar que lhe direcionamos.
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Franz Weissmann
Sem Título, 2001 – Série Planos
Aço
Acervo Instituto Weissmann
Foto: Edouard Fraipont
Muitas das obras de Weissmann não têm título ou são nomeadas pela série a qual pertencem. Aqui selecionamos uma das peças da série Planos, produzidas a partir de uma única chapa de metal plana, transformada a cada vez por vários tipos de corte e dobra. Das peças planas, Weissmann extrai, assim, novos formatos, novas figuras, indo do bidimensional para o tridimensional.
A obra que apresentamos é um exemplo disso: trata-se de uma chapa de aço que recebeu apenas dois cortes e uma dobra. Essa peça, que parece tão complexa, pode ser remontada com uma folha de sulfite, remetendo ao processo de trabalho do artista: primeiro, ele produzia uma miniatura em papel, madeira ou alumínio; depois, a obra em metal, em grandes proporções. A exposição realizada permitiu experimentar esse processo em um dos andares, dedicado a expor mais de 700 miniaturas feitas por Weissmann em seu ateliê, compartilhando, dessa forma, sua genialidade, capaz de arrancar do metal pesado tamanha leveza.
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Franz Weissmann
Sem Título, 1965 – Série Amassados
Chapa de zinco
Acervo Instituto Weissmann
Foto: Edouard Fraipont
A série Amassados se destaca na produção de Weissmann, fugindo das formas geométricas frequentes em suas obras. Aqui, o abstrato se torna ainda mais abstrato – não há linhas nem quadrados para guiar nosso olhar, são apenas placas de metal, alumínio ou zinco, amassadas com diferentes técnicas e materiais. Foram produzidas quando o artista vivia fora do Brasil. Comenta-se que ele enfrentou uma fase de depressão, em que abandonou por um período o estilo que adotava.
Ao produzir essa série, Weissmann usava martelos e pregos para fazer marcas e perfurações, além das próprias mãos; para isso, colocava luvas de boxe e socava as placas de metal. Por isso, essas peças são exemplo do quanto de sentimentos e emoções podem ser usados no fazer de uma obra de arte abstrata.
Weissmann nos leva a refletir sobre como a arte não está somente no objeto artístico, mas também no olhar de quem se propõe a admirá-lo. O vazio, aquilo que o artista tira da peça, é o que o nosso olhar preenche, dando sentido e encontrando formas no que poderiam ser apenas linhas e placas de metal.
Sobre mim
Meu nome é Tonne de Andrade. Sou formada em história pela Universidade de São Paulo, onde também realizei o mestrado em história social. Já atuei como educadora em instituições, como o Catavento e a Fundação Dorina Nowill para Cegos, e também como professora em escolas da rede pública e da rede privada. Sou educadora no Itaú Cultural desde 2019.