A partir de imersões no nosso acervo de obras de arte, propomos, aqui no site e no Instagram, pequenos encontros com artistas em obras. A série Interiores faz parte dessas publicações e é dedicada a obras que retratem os espaços internos de suas casas, ateliês etc.

Lucia Koch
Casarecce, 2003
fotografia
249,3 x 126 cm
Acervo Banco Itaú
imagem: Iara Venanzi/Itaú Cultural

por Duanne Ribeiro

A artista visual Lucia Koch contou ter concluído que “o que queria produzir como trabalho não seriam objetos e tampouco imagens, mas situações”. Falando dessa maneira, ela indica que o seu interesse está em como vivemos as coisas – nas experiências. Ela notou ainda que “essas situações necessariamente aconteceriam em um lugar”, e com isso surgiam algumas problemáticas. Como o espaço se transforma em um lugar? Como o lugar é formado pelo uso? Questões, ela ressalta, que se referem à linguagem e à arquitetura.

Sendo assim, Lucia nos fala bem de perto. Sabemos, mais ou menos conscientemente, o que é estar em uma situação e o que é viver um lugar, as diferenças às vezes muito intensas entre situações e lugares distintos. Nestes tempos de isolamento social, em que – quando há condições para tal – saímos menos, podemos notar como a experiência da casa se modifica. O espaço tem esse caráter vivido que talvez possamos explorar com Lucia.

Na obra que destacamos, Casarecce, vários elementos estão em jogo, dos quais dois saltam aos olhos: a luz e a forma. Pela janela – montada com padrões geométricos – os raios do sol se projetam, formando na parede como que o negativo daquela geometria. Além disso, apesar de nos relacionarmos aqui só com a fotografia, podemos ter a sensação de que ali está um lugar arejado, e recordar ou mesmo experimentar um pouco do que é estar em um local onde a luminosidade solar consegue entrar. Como você se perceberia nessa situação?

A Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras nota que esses recursos de que tratamos são típicos de Lucia, que, “desde meados dos anos 1990, trabalha com intervenções em espaços expositivos explorando a incidência e a percepção da luz e os fenômenos daí resultantes: cores, nuances, sombras, refração, projeção. Em suas obras, a luz deve ser entendida como elemento que interfere na percepção e na interação do homem com o ambiente”.

Aí, outra vez, a temática da experiência. E destacamos, nesse sentido, outro valor central para a artista: a abertura. Em entrevista à Enciclopédia, por exemplo, ela disse que a luz natural “não é um fenômeno que eu possa controlar e reapresentar, e é justamente isso que me interessa”. Não se busca fechar o sentido. Talvez seja isso o que coloca quem visita as obras em plano privilegiado: “O sujeito que não é iniciado necessariamente nesse universo da arte responde muito parecido com o cara que está sendo afetado dentro de um espaço de exposição e que conhece o meu trabalho”, afirmou Lucia.

Lucia Koch nasceu em Porto Alegre, vive e trabalha em São Paulo. No início dos anos 1990, começa a realizar intervenções em espaços domésticos, iniciando uma prática que depois se estenderia a instituições. Participou do projeto coletivo Arte Construtora, que ocorreu de 1992 a 1996, ocupando casas, parques e uma ilha com projetos concebidos especialmente para cada local.

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