por Jullyanna Salles

O som da chuva já rendeu poemas, canções e, vez ou outra, divide espaço com personagens em séries, filmes e livros. No projeto Paisagem Sonora, contemplado pelo programa Rumos 2015-2016, não só os pingos d’água que caem do céu ganham destaque, mas muitos outros componentes da natureza, como folhas de árvores, o vento e a temperatura de um tronco.

O projeto é um desejo antigo do artista plástico Roberto Freitas e do grupo O Grivo, formado por Nelson Soares e Marcos Moreira, com quem ele realiza parcerias há quase 15 anos. “Nós já conseguimos realizar outros trabalhos juntos, mas consideramos este especial. Temos uma vontade antiga de criar uma interlocução em tempo real entre os fatores físicos do mundo, como vento, chuva, temperatura e luminosidade, em uma instalação dentro de um espaço fechado”, explica Roberto, idealizador do Paisagem Sonora. Além disso, conta que o intuito também é, desde o princípio, “não trazer esses objetos diretamente, mas usá-los como referência para criar situações poéticas”.

A coleta de dados como, por exemplo, a velocidade do vento ou a umidade do ar, é relativamente fácil de obter. Sensores instalados em áreas externas fazem o trabalho e enviam relatórios via wi-fi. A transformação dessas informações em sons é que se mostra mais complexa. Para isso, o trio está criando instrumentos que farão a conexão entre meio ambiente e o resultado final da performance. Roberto conta que a dificuldade, no entanto, não é desmotivadora: “Não é sobre fazer o que a gente consegue, é sobre descobrir novas maneiras de fazer coisas que a gente nem sabia que podia fazer”.

Os instrumentos, que estão em processo de construção, são feitos de diversos materiais: resina, madeira e papel são alguns exemplos e, segundo o idealizador, estão ficando “bem diferentes do que a gente imaginava”. A ideia é que Roberto, Nelson e Marcos pertençam à performance operando alguns dos objetos, enquanto outros traduzem os dados captados utilizando programação. Tudo o que está sendo produzido é feito diretamente pelos artistas, que buscam fugir de toda e qualquer convencionalidade ou terceirização de trabalho: “A gente considera que o fazer é parte da delícia de ser artista. Ir para o ateliê e desenvolver os objetos, as esculturas sonoras, é bem mais interessante do que só projetar”, conta Roberto.

Confira abaixo algumas fotos do processo de confecção dos instrumentos:

Quando finalizarem a produção dos instrumentos, Roberto e O Grivo pretendem explorar os potenciais dos objetos e dos sons externos que conseguirem trazer para a performance. A ideia é realizar uma série de apresentações em lugares também não convencionais. Cada uma das sessões será única, já que o espaço, o clima e o período do dia influenciam no Paisagem Sonora. Por isso, não faz parte dos planos dos idealizadores realizar ou reproduzir um registro para ser apreciado enquanto obra: “É uma instalação performática e não pensamos ainda em desdobramentos. Não queremos chegar numa peça, queremos aproveitar o financiamento para experimentar”.

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