Por André Bernardo
Marcos Botelho Lage tinha apenas 10 anos quando ingressou em sua primeira banda. Fez parte de tantas, recorda, que até perdeu as contas. Uma delas é a Sociedade Musical Beneficente Euterpe, de Nova Friburgo, região serrana do Rio. Particularmente famoso por ser o mais antigo em atividade no Brasil, o conjunto foi fundado em 26 de fevereiro de 1863 – há 154 anos! – pelo então maestro da Banda dos Fuzileiros Navais, Samuel Antônio dos Santos. A história de sua fundação é bastante curiosa: Samuel prometeu a Santo Antônio que, se sobrevivesse a uma tormenta em alto-mar, fundaria uma banda em agradecimento ao seu santo de devoção. Ao que tudo indica, Samuel cumpriu a promessa.
Professor de trombone da Universidade Federal de Goiás (UFG), Botelho, de 37 anos, estuda bandas centenárias há mais de dez. Morando em Goiânia há quatro anos, resolveu pesquisar as bandas centenárias de Goiás. Logo, interessou-se pela história da Corporação Musical 13 de Maio. Com 127 anos de estrada, é um dos mais longevos conjuntos de Goiás. “Bandas fazem parte da vida cotidiana de várias cidades do Brasil. Infelizmente, elas produzem pouquíssimos documentos escritos. Quando produzem, são partituras. Correspondências, por exemplo, são raríssimas. Fontes como matérias de jornais quase inexistem porque essas bandas estão localizadas em municípios pequenos, sem imprensa”, diz ele.
Por essas e outras, o músico teve a ideia de criar o projeto Em Busca da Memória de uma Banda Centenária: Resgate da História Oral da Corporação Musical 13 de Maio. Contando com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural, Botelho convidou outros musicólogos para dividir a tarefa de registrar a história da 13 de Maio. Fazem parte da equipe as pesquisadoras Andrea Luiza Teixeira, Ana Guiomar Rego Souza e Magda Climaco e a produtora Fernanda Botelho. O segundo passo foi agendar os depoimentos espontâneos de 13 personagens: alguns dos membros mais antigos da banda e moradores idosos de Corumbá de Goiás, a 110 quilômetros de Goiânia, onde a banda foi fundada, no dia 13 de maio de 1890.
“A fase do agendamento talvez tenha sido a mais difícil. Muitos dos entrevistados moram em fazendas sem telefone. No entanto, todos nos receberam muito bem, com uma mesa repleta de quitutes”, brinca Botelho. Terminada a fase de depoimentos, o músico contabiliza mais de 15 horas de gravação. Na próxima fase, vai promover mais três rodadas de entrevistas com membros idosos da banda e da comunidade. “Vamos pedir a eles que falem sobre temas específicos. Como gatilho de memória, vamos usar fotografias antigas e gravações raras. Assim, um comenta o que o outro disse e conseguimos puxar da memória deles causos interessantes.”
O músico pretende lançar o documentário sobre a Corporação Musical 13 de Maio até setembro de 2017. O lugar escolhido não poderia ser outro: Corumbá de Goiás, onde tudo começou. Mas o projeto não se limita ao registro audiovisual. Inclui, ainda, a criação de um site com todas as gravações disponíveis da banda, mais de 500 partituras digitalizadas e, de quebra, um rico acervo fotográfico. “Resgatar a história da 13 de Maio é fundamental, tanto para conhecer sua trajetória musical quanto para valorizar ainda mais essa tradição centenária. Reconstruir sua história é reconstruir a história da própria Corumbá de Goiás e de toda a região vizinha”, explica Botelho.