obra: Roda Popular (Encontro dos Grupos de Cultura Popular do Território Velho Chico)
selecionados: Vania Nunes Nogueira e Gilberto Gesse Morais Júnior
Ibotirama é uma cidade de pouco mais de 27 mil habitantes. Fica no oeste da Bahia e compõe, ao lado de outros 15 municípios, o Território Velho Chico. Por lá, mesmo sem muito recurso ou organização, os grupos de cultura popular como sambas de roda e reisados permanecem atuantes. Com o intuito de valorizar e incentivar esse trabalho, o casal Vania Nunes Nogueira e Gilberto Gesse Morais Júnior resolveu criar o projeto Roda Popular.
Nascidos em Ibotirama e envolvidos com arte desde muito cedo, a proposta deles não se restringe à cidade natal, mas abrange também Morpará, Paratinga e Barra. A ideia é apoiar os grupos populares por meio de oficinas de construção de instrumentos percussivos, além de promover apresentações para que essa cultura seja difundida. “Teremos shows com os grupos e artistas locais em praça pública contando a história de cada um que está sendo beneficiado com este projeto", destaca Vania. “O público da cultura popular está acabando por não ter apoio”, complementa.
Vania e Gilberto estão há mais de uma década juntos e se conheceram em uma oficina de teatro experimental, ministrada pelo diretor carioca Yleci Ramos em Ibotirama. Ali, os participantes da atividade perceberam que seria interessante montar uma trupe. “O teatro mexeu comigo pela magia e poder de transformação que tem sobre a sociedade. Descobri que em Ibotirama tinha um diretor, o Aliomar Joaquim Pereira, que ministrava oficinas e já tinha formado vários grupos com o intuito de ajudar a juventude ibotiramense a desenvolver um senso crítico”, conta Gilberto.
Ele convidou Pereira, que aceitou a proposta, e em 2002 nascia o Teatro Afã. No grupo, Vania e Gilberto estreitaram a relação e selaram uma parceria que não se limitaria aos palcos.
O Teatro Afã permaneceu em atividade até 2006. No ano seguinte, Gilberto foi passar uma temporada no exterior. Ele seguiu para Londres em busca de conhecimento e novas experiências. Em contato com outra cultura, passou a imaginar o quanto poderia ser feito em sua região assim que retornasse ao Brasil. “Foi aí que comecei, junto com Vania, a fazer projetos para vários editais de teatro, cultura popular e outras linguagens artísticas”, conta.
De 2011 até o final de 2012, Gilberto atuou como coordenador de cultura no município de Muquém de São Francisco, que fica bem próximo a Ibotirama. “Foi quando tive contato direto com os grupos de reisados e sambas de roda nas comunidades ribeirinhas, quilombolas e assentamentos rurais. Percebi que eles estavam desestruturados e desorganizados por falta de apoio financeiro. Decidimos fazer este projeto Roda Popular que, na sua primeira edição, aconteceu só em Muquém”, revelou.
Após muita pesquisa, o casal descobriu que outras cidades do Território Velho Chico também tinham grupos populares importantes que precisavam de ajuda para resgatar essa história e dar continuidade às suas tradições. Souberam do Rumos e conseguiram aprovar a realização do Roda Popular em Ibotirama, Morpará, Paratinga e Barra.
Hoje, além do projeto e de atuar como produtor cultural, Gilberto é diretor da Cia. de Teatro Mistura, coordenador do Movimento de Teatro do Território Velho Chico e também presta serviços na Secretaria de Cultura do Ibotirama. Ele ainda encontra tempo para cursar psicologia. “Como geralmente acontece no interior, a vida profissional é bem diferente da cultural e nem sempre se juntam”, comenta Vania, que também cursa uma faculdade bem diferente da vocação artística: nutrição. A paixão pelo teatro, porém, não foi esquecida e ela a exerce como atriz na Cia. de Teatro Mistura.