obra: Quebras
selecionado: Marcelino Freire
Dar voz e visibilidade aos escritores que estão fora do eixo Rio/São Paulo. Esta é a proposta de Quebras (que antes se chamava Ponto BR), projeto de Marcelino Freire que traz como grande inspiração a autora Carolina Maria de Jesus, descoberta ao acaso em uma favela paulistana em 1958 e que escreveu o clássico Quarto de Despejo, traduzido em 13 idiomas.
Ao lado da atriz Olívia Araújo, Freire vai percorrer 15 capitais brasileiras (Rio Branco, Maceió, Macapá, Manaus, Vitória, Goiânia, São Luís, Cuiabá, Campo Grande, Belém, Teresina, Porto Velho, Boa Vista, Aracaju e Palmas) e, com a ajuda dos textos de Carolina, garimpar escritores em condições semelhantes às dela. “Gente desconhecida, isolada do meio literário e que tem a escrita, muitas vezes, como única salvação”, explica ele no projeto.
Autor dos livros Angu de Sangue (Ateliê Editorial), Contos Negreiros (Editora Record – Prêmio Jabuti 2006) e Nossos Ossos (Record), entre outros, Freire atua também como produtor de eventos – é o criador da Balada Literária, evento que, desde 2006, reúne escritores pelo bairro da Vila Madalena – e conta que sempre teve o desejo de conhecer esses autores marginais que estão fazendo a literatura brasileira atual fora dos “cânones estabelecidos”.
Pesquisas prévias e oficinas literárias gratuitas serão as principais formas de descoberta desses escritores. Ao final das atividades em cada cidade, haverá também a apresentação de um monólogo dirigido por ele, em que a atriz Olívia Araújo interpretará a “palavra” de Carolina. “A intenção do projeto, de fato, é ir fundo nesse tipo de invisibilidade não só social, mas cultural”, salienta Freire.
A proposta é também uma forma de resgatar e homenagear Carolina, cujo centenário é comemorado em 2014.
Todo trabalho será documentado em um site, no qual será possível encontrar o perfil dos autores, alguns de seus textos, além de um diário da viagem escrito pelo próprio Freire. Posteriormente, será organizada uma antologia, “mapeando todas essas vozes que, somadas ao universo de Carolina Maria de Jesus, darão conta de uma parte do Brasil que precisa ser escrita. E, principalmente, inscrita”, frisa ele.