Rumos 2013-2014: Arte e tecnologia em prol da ocupação dos vazios urbanos
25/08/2014 - 15:50
obra: Dispositivo Móvel para Ações Compartilhadas
selecionado: VFilmes BH
Sabe essas pessoas que possuem interesses múltiplos? A mineira Francisca Caporali faz parte dessa turma. Fez faculdade de comunicação social, mas sempre soube que não se restringiria à área. A veia artística, afinal, é herança familiar – o pai é músico, a mãe e a avó são artistas plásticas.
Na trajetória profissional, que conta com mestrado em arte e tecnologia em Barcelona e Nova York, além de experiência com projetos audiovisuais (documentários, curtas e vídeos institucionais), ela foi descobrindo uma predileção por questões político-sociais e que envolvem o espaço urbano. Como unir todas essas vocações aparentemente diversas? Francisca responde com a criação do JA.CA – Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
De sua experiência morando e trabalhando com artistas em Nova York Francisca enxergou a possibilidade de viabilizar um projeto que, de um lado, promovesse o aprendizado e o intercâmbio de artistas e, de outro, se relacionasse com o espaço público e com os moradores da região em que a proposta se insere.
Ao lado de Xandro Gontijo, Pedro Mendes e Mathew Wood, Francisca identificou que o Jardim Canadá, situado na Grande BH (na cidade de Nova Lima), seria o lugar ideal como laboratório para a iniciativa. Os quatro possuem relações afetivas com o bairro, mas, mais do que isso, o Jardim Canadá foi escolhido pelas características diversificadas e pelos elementos contrastantes que apresenta.
O local está ilhado entre um parque natural, uma área de mineração, condomínios de luxo e uma rodovia federal. Nos últimos tempos, pequenas indústrias e empresas, em sua maioria do setor de construção civil e moveleira, vêm se instalando no bairro. Apesar da valorização do polo de serviços, atraído pela demanda dos condomínios de alto padrão, o crescimento não é ordenado. Em muitos pontos, a comunidade sofre com a falta de serviços básicos, como transporte coletivo adequado, iluminação e calçadas. “Esse cenário contribui para a não utilização dos centros comunitários, sociais e culturais ali existentes e para que a maior parte da interação social se dê nas ruas, nas portas das casas dos moradores”, explica Francisca.
O objetivo do JA.CA é justamente incentivar a criação de propostas artísticas que possam atuar diante dessa realidade. Desde 2011, por exemplo, em parceria com a Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é desenvolvido no centro um projeto de pesquisa e produção de intervenções realizadas com material descartado pelas indústrias locais. Dessa iniciativa já surgiram ações como cinemas a céu aberto, restaurantes populares, brinquedos de praça, pista de skate e arquibancadas para apreciar o mirante.
Dispositivo Móvel para Ações Compartilhadas
O mais novo projeto do JA.CA, contemplado pelo Rumos, é o Dispositivo Móvel para Ações Compartilhadas. Três arquitetos irão desenvolver, em conjunto, um equipamento cultural móvel e adaptável que poderá ser utilizado em diferentes demandas, como workshops, mostras de filmes, concertos e performances.
O importante é que esse dispositivo seja desenvolvido por meio do reaproveitamento de resíduos sólidos e de baixo custo de manutenção. Wellington Cançado (Belo Horizonte), Marcos Nunez (Salvador) e Alejandro Haiek (Caracas) são os profissionais convidados para a iniciativa. Como destaca Francisca, eles foram escolhidos porque já possuem experiência em propostas de estruturas móveis e em construções que utilizam materiais reaproveitados.
O projeto também prevê a seleção de 12 artistas, designers ou arquitetos, que irão residir na sede do JA.CA com o objetivo de desenvolver iniciativas colaborativas que utilizem o dispositivo móvel. Serão três ciclos de residências com duração de dois meses cada um.
A iniciativa irá extrapolar os arredores do Jardim Canadá. “A proposta é que, nesse primeiro momento, o dispositivo circule em locais públicos da região metropolitana de Belo Horizonte e que seja transformado e readaptado para as especificidades e demandas de cada ação ou intervenção artística, promovendo a apropriação dos vazios da cidade e o convívio entre as pessoas que moram e circulam nas bordas urbanas”, explica Francisca.
Outras ações também serão promovidas, como a produção de material digital (site e vídeo) para o registro e a divulgação do conhecimento adquirido com a experiência.
Atualmente, apenas Francisca continua bem ativa no JA.CA, já que os outros fundadores tiveram de se afastar por causa de outros projetos profissionais. Ela conta já há algum tempo com a colaboração de Joana Meniconi, como coordenadora executiva do centro, e de Mateus Mesquita, na coordenação técnica.