por Duanne Ribeiro

Na sexta 23 de novembro o cantor, compositor e instrumentista Rodrigo Campos se apresentou no Itaú Cultural em São Paulo, trazendo as músicas do seu disco mais recente, 9Sambas, além de outras canções do seu repertório. Campos conversou com o Itaú Cultural sobre o processo de criação do álbum e as diferenças de inspiração, escrita e interesses poéticos deste momento em relação a outros da sua carreira.

Queria que você comentasse a história do álbum. Havia uma versão anterior que não foi para a frente e que você retomou agora. Quais as diferenças entre uma e outra, como foi o amadurecimento entre elas?

O repertório é todo diferente, novo. São músicas compostas no ano passado. Isso é a primeira grande diferença, pois minha maneira de escrever está diferente, as músicas daquela época foram descartadas, salvo umas duas que figuram no São Mateus Não É um Lugar Tão Longe Assim. A segunda coisa foi o processo, compreendo melhor o que significa produzir um disco, na época confundia isso com arranjo ou direção musical, e são coisas diferentes, e produção musical determina muito a qualidade do disco.

Como você vê o percurso dos seus álbuns até agora? Como têm mudado as escolhas de composição, instrumental ou de letras?

O percurso muda de acordo com os encontros, e com a vida também, digo experiência de vida. A estética é determinada pelos encontros, e os temas pela vida. Acho que venho seguindo assim.

Uma mudança que vejo: antes havia uma inspiração geográfica, bairros paulistanos em São Mateus..., o Japão e a Bahia nos seguintes, depois referências mais conceituais, o filósofo Albert Camus e agora uma investida mais profunda em um gênero, o samba? Como você vê isso?

Vejo como amadurecimento, talvez. Raramente eu me referia a mim nos discos anteriores, usava personagens e lugares como metáfora das venturas e desventuras. Agora, em 9Sambas, mais do que o samba, apesar de ser um disco de samba, vejo principalmente a primeira pessoa aparecer nas letras e protagonizar o disco. Acho isso representativo.

Também vejo uma preferência por narrativas mais minimalistas, uma poesia que se concentra em um momento, em traços visuais ou de personalidade. Em São Mateus..., há histórias mais longas, crônicas... Você concorda com essa interpretação? Como mudou seu foco lírico?

Foco agora é mais na busca por uma filosofia, e refinar essa filosofia pela lente da simplicidade. Antes eram histórias, crônicas, era mais reportagem. Agora é pensamento, sensação, emoção, tudo sem filtro.

Nesse conjunto, você discerne temas ou personagens recorrentes? Eu vejo um: o tema do limiar. Por exemplo, em “Cecília e a Razão” (o homem “pronto pra sucumbir”) e “Aninha” (“Ana vai morrer”). Você enxerga também esse tema ou outros?

Isso permeia meu trabalho todo. Em São Mateus..., os personagens convivem com a morte e relatam a falta de pessoas. No Bahia Fantástica, há uma grande metáfora sobre a morte. Sambas do Absurdo é sobre Camus, e sua visão sobre a falta de sentido da vida, que tem seu estopim na morte. E agora, em 9Sambas, ela passeia também: “clareza, a sombra da morte”, “nada tem um fim, tem outro estopim”. Acho a morte a reflexão mais importante. Lidar bem com isso é saber viver.

Como você vê o momento atual da sua carreira? Quais outros caminhos espera seguir?

Espero continuar a fazer discos. Quero melhorar como cantor e músico. E tenho pretensões literárias também.

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