Isolamento em imagens (artistas em tempos de pandemia) publicado em: 22/04/2020 - 06:00
por Fernanda Castello Branco e Marina Lahr
Um mundo em suspensão. Um mundo em quarentena. Ou não. Nem todos podem parar, há os trabalhadores em funções essenciais, há as pessoas que, por inúmeros motivos, não conseguem parar. Há também os que não querem. Os que não acreditam. Mas a ordem, o pedido, o clamor é um só: fique em casa.
E como estão atravessando esse período de necessidade de isolamento social aqueles cujo ofício é estar em público, reunir pessoas, se apresentar em palcos, juntar gente em palestras, shows, peças, exposições? Convidamos Ailton Krenak, Almério, Luisa Dörr, Maurício Pereira, Rincon Sapiência, Silvero Pereira, Telma Tremembé e Tulipa Ruiz para nos mostrar um pouco dos seus dias recentes.
A galeria abaixo mostra recortes desse cotidiano, com legendas autorais. Cenas simples de um dia a dia dentro de casa. Cenas simples de um momento histórico.
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Minha primeira atividade do dia, tomar chá de limão e observar a rua pela janela e o sol que entra por ela | Silvero Pereira | Fortaleza (CE). Ator e diretor. Tem 20 anos de carreira, com trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. Em 2019 integrou o elenco do aclamado e premiado "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (imagem: Silvero Pereira) Visão de minha janela para o prédio histórico chamado Casa do Português | Casa José Maria Cardoso no bairro Damas em Fortaleza | Silvero Pereira | Fortaleza (CE). Ator e diretor. Tem 20 anos de carreira, com trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. Em 2019 integrou o elenco do aclamado e premiado "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (imagem: Silvero Pereira) Exercícios feitos em casa com corda e peso do corpo | Silvero Pereira | Fortaleza (CE). Ator e diretor. Tem 20 anos de carreira, com trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. Em 2019 integrou o elenco do aclamado e premiado "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (imagem: Silvero Pereira) Pesquisa e leituras de Hamlet para um solo que pretendo montar no segundo semestre de 2020 | Silvero Pereira | Fortaleza (CE). Ator e diretor. Tem 20 anos de carreira, com trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. Em 2019 integrou o elenco do aclamado e premiado "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (imagem: Silvero Pereira) Picotar o cabelo conforme o estado de espírito e começar tudo de novo | Tulipa Ruiz | São Paulo (SP). Cantora, compositora e ilustradora. Estreou em disco no ano de 2010, com "Efêmera", e já tem quatro álbuns lançados (imagem: Tulipa Ruiz) Um lenço verde como símbolo de luta e uma boa água sanitária para esfregar na cara da realidade | Tulipa Ruiz | São Paulo (SP). Cantora, compositora e ilustradora. Estreou em disco no ano de 2010, com "Efêmera", e já tem quatro álbuns lançados (imagem: Tulipa Ruiz) No rápido – A sensação de deslocamento é inevitável, mas tenho tentado converter essa energia de forma positiva e aproveitado para fazer coisas que são básicas mas que nem sempre tive a oportunidade de fazer | Rincon Sapiência | São Paulo (SP). MC, produtor musical e empresário. Seu primeiro disco, "Galanga Livre", está na lista dos 50 Melhores Álbuns da Música Brasileira de 2017, segundo a Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Em 2018, lançou seu próprio selo independente, MGoma (imagem: Rincon Sapiência) Posso gravar? Fazer música, independentemente do cunho profissional e financeiro que isso tem na minha vida, é algo que eu amo. O medo se faz presente, mas a única forma de me manter ativo é tentando ser positivo, imaginando que tudo vai passar em breve | Rincon Sapiência | São Paulo (SP). MC, produtor musical e empresário. Seu primeiro disco, "Galanga Livre", está na lista dos 50 Melhores Álbuns da Música Brasileira de 2017, segundo a Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Em 2018, lançou seu próprio selo independente, MGoma (imagem: Rincon Sapiência) Estamos em abril, costumava ter Sol e Céu azul. Em quarentena aqui, da margem esquerda do rio, vejo que a montanha Takrukrak se escondeu nas nuvens. Lembrei-me do “I Ching”, com o lago sobre a montanha | Ailton Krenak | Reserva Indígena Krenak, Médio Rio Doce, Resplendor (MG). Líder indígena, ambientalista e escritor. Seu mais recente livro, "Ideias para Adiar o Fim do Mundo" (2019), reúne duas palestras e uma entrevista realizadas em Portugal, entre 2017 e 2019 (imagem: Ailton Krenak) Um país desigual. Desgovernado. Ninguém na rua. A foto é de março de 2020. Uma avenida num bairro
de classe média da maior cidade do país, umas oito e pouco duma noite dum dia de semana.
Cadê o povo?
(Se você ampliar bem a foto, vai ver uma meia-lua ali, mais pro lado esquerdo, quietinha. Mas… Cadê o
povo?) | Mauricio Pereira | São Paulo (SP). Cantor, compositor, saxofonista e ator. Em 1985, criou a banda Os Mulheres Negras, com André Abujamra. Segue carreira solo, atuando também como produtor musical (imagem: Mauricio Pereira) Natural, né? O rumor da cidade baixou, pequenas coisas começam a
aparecer. Sons, imagens, que passam batidos no bololô da correria
paulistana, se apresentam. Tipo: muita cigarra no começo do outono no
Sudeste, algum grilo, abelhas pequenas. Pássaros piando diferente, pra além
dos habituais sabiás e bem-te-vis. E pouco avião: a vida inteira eu morei na
rota, confesso que sinto falta.
Aí, belo dia, me apareceu esse besouro na mesa onde eu trabalho.
Lindo, pacato, diferentão. Pousou na minha caneta, a gente ficou se olhando.
Ele me achou perplexo; eu achei a roupa dele um pouco chamativa. Dali a
pouco ele saiu voando, foi cuidar da vida. Eu segui pousado, fui cuidar da
casa | Mauricio Pereira | São Paulo (SP). Cantor, compositor, saxofonista e ator. Em 1985, criou a banda Os Mulheres Negras, com André Abujamra. Segue carreira solo, atuando também como produtor musical (imagem: Mauricio Pereira) Estamos vivendo na roça há cerca de dois anos, uma vida mais simples, perto da natureza. Na cidade, tínhamos o sentimento de que ela estava controlando nossa vida. Aqui no interior é como se de alguma forma o controle tivesse voltado a ser nosso. Começamos a plantar quando chegamos aqui. Nesta semana finalmente colhemos os primeiros maracujás. Foi bom ter um pouco de alegria neste momento difícil | Luisa Dörr | Lajeado (RS). Fotógrafa. Em 2017, foi convidada pela revista Time para retratar mulheres norte-americanas pioneiras e influentes, o que lhe deu projeção internacional. Com a série Falleras, conquistou o terceiro lugar no World Press Photo Contest 2019 (imagem: Luisa Dörr) Esta é Cacau, pastor-alemão vira-lata. Mesmo na quarentena, não é proibido ir à praia, respeitando-se a distância segura. Em dias nublados a praia fica completamente deserta, é quando levo Cacau para passear | Luisa Dörr | Lajeado (RS). Fotógrafa. Em 2017, foi convidada pela revista Time para retratar mulheres norte-americanas pioneiras e influentes, o que lhe deu projeção internacional. Com a série Falleras, conquistou o terceiro lugar no World Press Photo Contest 2019 (imagem: Luisa Dörr) Fique em casa – O que eu mais gosto de fazer é o artesanato. Também tenho passado meu tempo escrevendo para uma coletânea com textos apenas de mulheres indígenas e para um jornal de literatura | Telma Tremembé | Fortaleza (CE). Escritora e artesã indígena. Ministra palestras e oficinas de artesanatos indígena, é militante da causa indígena e da preservação da natureza e faz parte do Fórum de Literatura, Livro e Leitura do Ceará (FLLLEC) (imagem: Telma Tremembé) Tomar café com a família sem pressa. Eu me sinto alegre e preocupada. A alegria vem por estar mais perto da minha família, ter mais tempo para fazer coisas que antes eu não conseguia, como olhar mais para a natureza. Preocupada porque muitas pessoas não têm a real consciência da gravidade da epidemia e muitos já estão passando por dificuldades. São muitos sentimentos, se eu fosse colocar no papel não conseguiria resumir | Telma Tremembé | Fortaleza (CE). Escritora e artesã indígena. Ministra palestras e oficinas de artesanatos indígena, é militante da causa indígena e da preservação da natureza e faz parte do Fórum de Literatura, Livro e Leitura do Ceará (FLLLEC) (imagem: Telma Tremembé) Cuidando do consciente jardim | Almério | Altinho (PE). Cantor, compositor e artista performático. Lançou seu primeiro álbum, homônimo, em 2013. Foi considerado Artista Revelação no Prêmio da Música Brasileira 2018 e participou das turnês de O Grande Encontro com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo (imagem: Almério) Eu sobrevivido, sobrevivido | Almério | Altinho (PE). Cantor, compositor e artista performático. Lançou seu primeiro álbum, homônimo, em 2013. Foi considerado Artista Revelação no Prêmio da Música Brasileira 2018 e participou das turnês de O Grande Encontro com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo (imagem: Almério) Revisitando o pandeiro | Almério | Altinho (PE). Cantor, compositor e artista performático. Lançou seu primeiro álbum, homônimo, em 2013. Foi considerado Artista Revelação no Prêmio da Música Brasileira 2018 e participou das turnês de O Grande Encontro com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo (imagem: Almério)
Veja também
Entre registros do Ocupação, de exposições, mesas de debate e demais atividades, vídeos em Libras estão disponíveis no nosso canal do YouTube O escritor e ambientalista esteve entre as pessoas que falaram aqui no site sobre a experiência de um mês em isolamento, em abril de 2020. Agora ele volta para refletir sobre uma das coisas que acredita contribuir para o caos de um ano em pandemia