A linha Safira-12 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) parte do Brás e vai até Calmon Viana, no extremo leste da cidade de São Paulo. No caminho, o trem conduz a bairros longínquos, periféricos. Um deles é o Jardim Romano, localizado próximo ao ponto final da via férrea e cenário principal do espetáculo A Cidade dos Rios Invisíveis, realizado pelo Coletivo Estopô Balaio em parceria com os moradores locais.

Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2015-2016, o projeto Nos Trilhos Abertos de um Leste Migrante, do coletivo, investiga os movimentos de migração em bairros da Zona Leste de São Paulo, onde vivem muitos nordestinos e imigrantes de países como a Bolívia e o Haiti. A realização de mais uma temporada do espetáculo, com início neste sábado, dia 17, é uma das proposições do projeto.

O Coletivo Estopô Balaio [de] Criação, Memória e Narrativa é composto por artistas migrantes de diversas regiões do país

 

Inspirada no livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, a montagem é a terceira parte da Trilogia das Águas, que já contou com os espetáculos Daqui a Pouco o Peixe Pula e O que Sobrou do Rio e trata da realidade daqueles que vivem no Jardim Romano, bairro que sofre há dez anos com alagamentos em razão de enchentes na época de chuvas. Essa parceria com os moradores da região remete a 2010, quando teve início uma espécie de residência artística do coletivo no local. As peças só nasceram após um momento de interlocução com a comunidade, efetivado através de uma série de entrevistas e da gravação de depoimentos, ainda em 2012.

Um espetáculo itinerante, A Cidade dos Rios Invisíveis começa dentro do trem, partindo da estação Brás, onde os espectadores recebem fones de ouvido e aparelhos MP3 e, enquanto observam pelas janelas a paisagem que passa, são envolvidos pelas histórias que escutam. Ao chegar ao Jardim Romano, o público segue pelas ruas, onde rap, dança de rua, teatro e grafite retratam a experiência que é lidar frequentemente com as enchentes.

No trajeto, os atores do Coletivo Estopô Balaio se juntam aos moradores do bairro, em uma mistura de ficção e realidade. Segundo os artistas, a ideia do espetáculo é promover um exercício de alteridade – não apenas diante daqueles que vivem em um bairro periférico, mas também diante do outro que, durante o passeio, experimenta o processo de fruição. Além disso, aborda-se a relação dos moradores – a maioria deles descendente de nordestinos – com São Paulo a partir do contraponto entre a “cidade-império” e as “cidades invisíveis”.

A nova temporada de A Cidade dos Rios Invisíveis vai até 9 de outubro, aos sábados e domingos. O espetáculo começa às 14h, na estação Brás da CPTM, com ponto de encontro no Espaço Cultural do local. A apresentação tem três horas e meia de duração e termina às margens do Córrego Três Pontes, no Jardim Romano. Os ingressos são gratuitos. Para reservá-los é necessário enviar e-mail com nome completo, telefone e data da apresentação que deseja ver para reservas@coletivoestopobalaio.com.br. Só é possível reservar dois ingressos por pessoa.