Afonso Brazza, por Maria Ignês Carlos Magno

Nasceu em São João do Piauí, às margens do Rio Piauí. Mudou-se com a família para Gama, cidade-satélite de Brasília. Em 1969, aos 12 anos, saiu de lá para "ganhar o mundo". Esse mundo era São Paulo. Mais propriamente, o lugar onde ficava o pessoal de cinema, nas ruas próximas à Estação da Luz, como a Rua Vitória e a Rua do Triunfo, mais conhecido como a Boca do Lixo, que durante toda a década de 1970 foi o centro de produção de pornochanchadas e faroestes, à moda dos chamados spaghettis italianos. No período da manhã, trabalhava em uma pastelaria, à tarde, frequentava o famoso local. Na Boca executou todos os tipos de serviços desde carpintaria, eletricista, até chegar a participar da equipe técnica e elenco de filmes assinados por David Cardoso, Ozualdo Candeias e Tony Vieira -- seu mestre, como dizia.

Como ator, atuou em três longas dirigidos por Tony Vieira: A Filha do Padre (1975); Traídas pelo Desejo (1976); As Amantes de um Canalha (1977). Atuou ainda nos filmes: Os Violentadores (1978, também de Tony Vieira); O Trapalhão no Planalto dos Macacos (1976, de J.B. Tanko); A Terceira Margem do Rio (1994, de Nelson Pereira dos Santos) e Surfista Invisível (2000, curta-metragem de Juliana Mundin). Na década de 1980, voltou para Gama e entrou para o Corpo de Bombeiros. Nunca deixou, porém, de fazer cinema, realizando seus próprios filmes nos finais de semana. Dirigiu e atuou em O Matador de Escravos (1982); Os Navarros (1985); Santhion Nunca Morre (1991); Inferno no Gama (1993); Gringo Não Perdoa, Mata (1995); No Eixo da Morte (1997); Tortura Selvagem - A Grade (2001) e Fuga Sem Destino, concluído após sua morte, em 29 de julho de 2003.

Autodidata, Afonso Brazza não era totalmente desconhecido no meio artístico nem da crítica cinematográfica. Notabilizou-se como o "Rambo" do cerrado porque seus filmes continham ação, mortes, lutas e cenas de bangue-bangue. Em todas as suas produções, foi roteirista, compositor, diretor, ator, fotógrafo, montador e herói. Herói do cerrado. Herói urbano.

Gringo Não Perdoa, Mata (1995) e Inferno no Gama (1993)

Esses filmes variam entre os gêneros western e policial, uma mistura constante no cinema de Afonso Brazza, que, partindo de um roteiro prévio, se valia dos elementos desses dois gêneros. Porém, incorporava ou modificava as estruturas tradicionais de acordo com suas próprias imagens sobre filmes existentes e construía o que estava em sua cabeça. A quebra de regras era apenas e despudoradamente apropriações e misturas de trechos de filmes vistos, de músicas e de cenas copiadas de outras obras, que deram a seus filmes características próprias. Como seu desejo era o de fazer filmes e o cinema, para ele, era pura diversão, Brazza não via o menor problema nessas apropriações. O que importava era fazer um filme, mesmo que com uma fotografia suja, dublagens e músicas rústicas. Tudo o que sua câmera pudesse criar, nas condições possíveis, valia um filme e o entretenimento.