Gestores culturais em foco | Maria Teresa Lira Collares, Unibave (Orleans, SC)
07/04/2017 - 16:16
Qual a importância de compartilhar com outros gestores as suas experiências na área cultural? Como você vê essa troca?
Em primeiro lugar, acredito em trocas, em trocas simbólicas e reais, desde que honestas. Considero importante a troca de conhecimentos e informações no que diz respeito à gestão cultural porque essa é uma área ainda incipiente no Brasil. A troca de experiências vividas facilita o trabalho, uma vez que o que já deu certo para um gestor pode servir de exemplo para outro. As dificuldades que marcam a área são muito semelhantes umas às outras, assim como as situações de inovação. Participei de várias edições do Seminário de Políticas Culturais organizado pela Fundação Casa de Rui Barbosa, e ali os gestores se espelham e se identificam com os mesmos problemas e soluções. Esse é um exemplo de troca em que acredito.
Quais os desafios ou qual o maior desafio que um gestor/produtor cultural enfrenta hoje no Brasil?
Na área pública é a falta de políticas culturais definidas e institucionalizadas. Na área privada, a falta de conhecimento da importância da cultura como fator de desenvolvimento humano, social, educacional e econômico. E ainda há a pouca oferta pública para a formação de gestores culturais no Brasil. Considerando que um gestor cultural capacitado, com formação, conhecimento, informação e experiência já tem dificuldades para tornar realidade proposições discutidas e planejadas, imagine um gestor sem capacidade técnica, sem experiência, sem diretrizes, prioridades e orçamento – e sem credibilidade. O que ele precisa fazer? Possivelmente, um esforço sobrenatural, pois não basta ter sensibilidade e boas intenções para exercer uma gestão. É preciso algo mais.
Em que consiste o trabalho do gestor/produtor cultural? Quais as habilidades e competências necessárias para que ele tenha êxito em sua atuação?
Acima de tudo, o gestor precisa ter simpatia pela humanidade, conhecimento, formação e experiência. É preciso conhecer o meio, vivenciá-lo junto aos movimentos culturais, reconhecer a diversidade cultural humana. Creio que sou um pouco radical, mas creio também que temos de ser assim. Estamos assistindo a uma série de desastres, mesmo com todo o trabalho que foi feito para que o Brasil tivesse uma política pública de cultura digna de sua diversidade. Existem casos de sucesso? Sim, assim como existem casos em que as políticas foram implantadas e esquecidas, abandonadas.
Temos no Brasil um histórico de práticas, cada gestor faz seu trabalho do jeito que bem entende. Isso causou grandes estragos e perdas – assim como gerou grandes ganhos e prêmios.
Acredito que um gestor cultural não conseguirá obter bons resultados se não promover discussões com a sociedade. A diversidade brasileira é tão ampla que o gestor não pode trabalhar sozinho.