obra: Voz/Voice
selecionado: Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti
Tornar perceptíveis sensações e relações entre nós e as coisas parece um foco de interesse permanente nos trabalhos de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti. Em Voz/Voice, obra contemplada pelo Rumos e atualmente sendo desenvolvida pela dupla (a construção do protótipo deve iniciar em outubro), o som se torna visível – a instalação captará o diálogo dos visitantes em torno dela e traduzirá em lâminas de aço a movimentação das ondas sonoras no espaço.
Rejane trabalha desde 1987 com instalações imersivas, tendo estudado, em São Paulo e Genebra, comunicação, semiótica, visualização de sistema de informação e interfaces cinemáticas. Leonardo é arquiteto e diretor de cinema, tendo feito 13 curtas-metragens. Desde 1978, realiza projetos em mídias e suportes variados. A parceria entre os artistas começou em 2005. “Naquele ano, começamos a namorar e achamos interessante unir experiências e backgrounds”, contam.
Voz/Voice será composta de dois microfones, 40 lâminas de aço inox, 40 motores controlados por computador, sistema mecânico e software de controle. Segundo os artistas, interagir com a aparelhagem será simples: “Quando você fala ou faz ruídos em um dos microfones, a escultura forma ondas que se espalham por toda a obra. Os microfones captam estímulos sonoros e enviam dados o tempo todo ao computador. O programa analisa a informação e, em função de volume, ritmo e velocidade do som, move as lâminas de uma extremidade a outra”.
Quem interage vê as vozes percorrendo a distância entre um ponto e outro – o tom da conversa tem consequências materiais, concretas. Quem observa de fora assiste a um espetáculo visual e cinético.
“O desafio central de nossa pesquisa é transformar aspectos da complexidade do mundo em informação sensória que qualquer um possa entender”, dizem. “Isso significa desenhar e desenvolver dispositivos capazes de possibilitar ao visitante experimentar, perceber e compreender, de forma natural e intuitiva, ideias, teorias, sensações e/ou fenômenos físicos.” Para alcançar esse tipo de efeito, eles exploram tecnologias que utilizam a audição, a visão e o tato humanos.
Em outras palavras, criam interfaces – estruturas que mediam campos distintos – baseadas em nossas aptidões sensoriais, com foco em “situações que exigem ou refletem ajustes na percepção e no comportamento”, isto é, quando lidamos com espaço e tempo, quando nos comunicamos e interagimos com algo.
Há vários exemplos dessas ideias no trabalho de Rejane e Leonardo. Um deles é a obra Jardim Suspenso (2013), uma escultura com 360 quadrados espelhados que reagem ao vento e a outros fenômenos naturais, formando, nas palavras deles, um “espelho voador” e móvel sobre as árvores. Já em Melt (2014), uma instalação de 50 placas de alumínio dá a impressão de “andar em um solo de metal líquido”. O público caminha e a superfície sofre transformações segundo seu peso, sua posição e seu movimento. O efeito também impressiona quem apenas observa as mudanças.
Seguem também essa linha Infinito ao Cubo (2007), Piso (2007), Espelho (2008), Solar (2009), Túnel (2010), Solo (2010), Água (2010, com Raquel Kogan), Fala (2012) e Parede (2012).
A produção desse tipo de obra – “interfaces áudio-tátil-visuais”, como dizem os artistas – envolve “métodos, estratégias e inputs advindos de todas as áreas do conhecimento”. É o problema que eles têm em vista que lhes determina a busca de recursos (“suportes, teorias, linguagens, materiais e equipes”). “Nesse processo, as perguntas-chave são: qual é a ideia? Será implementada em qual ambiente ou espaço? Qual é o tempo de execução? Qual é o tempo de exposição? Quem será o usuário? Quem são os interlocutores? Alguém já fez isso antes ou tentou fazer? Qual é a verba disponível? Entre outras.”