obra: Ela Volta na Quinta
selecionado: Filmes de Plástico

É bastante comum que artistas tragam referências da própria vida em seus trabalhos. O diretor André Novais Oliveira, da Filmes de Plástico, foi mais além. Não só observou à sua volta, como inseriu em Ela Volta na Quinta, primeiro longa dele e da produtora mineira, elementos da sua realidade, do seu dia a dia.

Não se trata de um filme autobiográfico ou de um documentário. É ficção, mas estão em cena o bairro, a casa e até mesmo os pais de André, Norberto e Maria José, que cumprem o papel de protagonistas da história. O longa apresenta um casal de meia-idade em um relacionamento desgastado pelo tempo e pelas brigas, mostrando também como isso influencia os filhos.

Ela Volta na Quinta surgiu de uma vontade do diretor de retratar a classe média e a periferia de uma grande cidade, mas não de um modo marginalizado. A intenção dele é justamente a de “mostrar a normalidade que existe no cotidiano das vidas dessas famílias”. E, para dizer isso de maneira forte e verdadeira, ele encontrou em sua própria família os melhores interlocutores.

“Vemos em cena meu pai interpretando um homem que tem seu nome, Norberto. Minha mãe interpretando uma mulher que tem seu nome, Maria José. Porém, na dinâmica entre os dois, não está proposta uma reflexão da relação conjugal real deles, assim como não se trata de um retrato documental da minha família. Mas era de fundamental importância ver os dois em cena, dirigi-los e encontrar junto deles o filme que eu desejava realizar. Através da relação que se deu entre a equipe, os atores não profissionais, o bairro e eu, acredito que encontramos um filme forte, de atuações naturalistas e memoráveis que, mesmo retratando personagens ficcionais, em vários momentos encontram sua maior potência dramática em tudo que acaba remetendo ao que chamamos de ‘vida real’”, acredita.

Com orçamento para produzir um curta (que era a ideia inicial), André enfrentou uma série de obstáculos para viabilizar as gravações do projeto, o que só foi possível, segundo destaca, graças ao empenho de uma equipe de apenas seis pessoas.

Com o apoio do Rumos, Ela Volta na Quinta passará agora pelas etapas de pós-produção e finalização. “Para mim, finalizar esse filme é fundamental, não somente pela necessidade de enxergar na tela o produto final dessa minha visão de cinema, mas também como conclusão de uma das aventuras profissionais mais intensas e recompensadoras que eu já tive”, salienta.

Produtora

Foi por intermédio do irmão mais velho que André passou a ter interesse pela sétima arte. “Eu era muito influenciado por ele, que me indicava filmes e me levava a festivais realizados em Belo Horizonte”, lembra. Aos poucos, a vontade de ingressar nessa área foi crescendo e encontrou na Escola Livre de Cinema o impulso técnico que faltava. “Me formei e dirigi os meus primeiros curtas lá”, comenta.

Durante o curso, André conheceu Gabriel Martins. Os dois mais Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia decidem criar, em 2009, a Filmes de Plástico. O quarteto se reveza nos papéis de direção, câmera, técnica de som e produção. Assim como em Ela Volta na Quinta, é uma marca da produtora o interesse em realizar obras que retratem o cotidiano na periferia. Isso tem a ver com a própria vivência deles.

André, Gabriel e Maurílio são de Contagem, na região metropolitana de BH, e conhecem muito bem essa realidade, esse universo de personagens que ainda é visto de modo marginalizado. “Nossos filmes são bem diferentes uns dos outros, mas ao mesmo tempo conservam algumas características em comum. Por exemplo, na maioria existe uma coisa bem forte do lugar, da localização geográfica”, acrescenta André.

A mesma linha de proposta narrativa e estrutural de Ela Volta na Quinta também está presente em dois de seus trabalhos anteriores, os curtas Pouco Mais de Um Mês e Fantasmas.

Os trabalhos da produtora conseguem uma boa receptividade em festivais. Contando uma história que poderia ser de qualquer um, eles esperam que Ela Volta na Quinta também ganhe notoriedade em festivais e, quem sabe, possa ser assim exibido em circuito nacional, fazendo com que o cinema independente consiga alcançar um público cada vez maior, quebrando barreiras e democratizando a arte.