obra: Janela de Dramaturgia
selecionados: Sara Pinheiro e Vinícius Souza
A arte sempre esteve presente na “casa-infância” da dramaturga mineira Sara Pinheiro, de 28 anos. O gosto pela literatura e pelo teatro tomou corpo na adolescência. “Nessa época, Kafka me estranhava. Bandeira me encantava. As peças do grupo Espanca! me arrebatavam!”, recorda.
Também foi mais ou menos assim com o dramaturgo Vinícius Souza, de 26 anos. O despertar da sensibilidade artística se deu através da música. Grande parte da família tocava algum instrumento popular e, ainda criança, ele estudou piano e canto. Depois veio o interesse pela escrita e pelo teatro. “Eu fiz um curso de teatrinho infantil e não sei por que, mas me senti muito confortável, não só pela prática profissional, mas pelos círculos de pessoas, pelo que era conversado”, comenta.
Sara e Vinícius se encontraram no Curso Técnico para Atores da Fundação Clóvis Salgado (Cefar), em Belo Horizonte (MG). Com outros, eles formaram um grupo, montaram peças, pensaram “mil projetos”. Até que, um dia, nesta troca de referências e ideias, surgiu o Janela de Dramaturgia.
“Foi assim: começamos a fazer encontros na minha casa, entre artistas próximos, para leitura de textos nossos. Sabe aqueles escritos guardados na gaveta? Percebemos a importância de se abrir a criação! Só assim o texto ganha diálogos e possibilidades de reescrita”, destaca Sara.
O projeto é também uma oportunidade para autores que não estão ligados a grupos e encontram dificuldades para dar vazão ao que produzem. “Alguns escritores não pertencem a nenhum coletivo teatral. Tampouco são diretores ou produtores... O que fazer com uma peça escrita? A montagem de qualquer texto e/ou sua publicação depende de uma produção que muitas vezes não está na alçada do autor”, pontua Sara.
O Janela de Dramaturgia abre esse espaço: uma mostra de textos inéditos de autores contemporâneos. Um lugar para o fomento, a discussão e a difusão em dramaturgia.
Em suas duas primeiras edições, realizadas em 2012 e 2013, a proposta mobilizou 19 textos para teatro de 17 diferentes dramaturgos de Belo Horizonte. Com o apoio do Rumos, esses escritos serão publicados em dois volumes. “A coletânea será um apanhado das mais recentes experimentações em dramaturgia realizadas na cidade, destacando sua diversidade de estéticas, temáticas e procedimentos de escrita. Os textos, além de trazerem um olhar local sobre o homem contemporâneo, estão em forte diálogo com outras experiências dramatúrgicas realizadas pelo mundo”, salientam os idealizadores.
O desejo de Sara e Vinícius é que o projeto se expanda cada vez mais. Na última edição, realizada em 2014, já houve um intercâmbio com autores de outras regiões do Brasil.
“Faltava um espaço para valorizar esse tipo de texto, que não nasce nos grupos teatrais, mas é chamado de ‘escrita de gabinete’. É também um lugar de leitura para teatro; pode parecer algo antigo, mas ainda é a forma mais viva de apresentar um texto, e o Janela de Dramaturgia é prova disso”, conclui Vinícius.