obra: Patrimônio Azulejar em Belém ‒ Narrativa Multimídia em Realidade Aumentada por Dispositivos Móveis
selecionados: Mariana Sampaio e Bianchi Serique Meinguins

A princípio, o interesse de Mariana Sampaio pela arquitetura era histórico. Ela queria saber como surgiram as obras e as construções que tinha visto em uma viagem à Europa, ainda na adolescência. Já na faculdade de arquitetura, a então estudante passou a olhar para sua cidade, Belém (PA), e a identificar como o tempo deixa sua marca em cada espaço e como é importante que isso seja preservado.

Aprofundar o conhecimento sobre patrimônio cultural e entender por que em muitos locais ele não é valorizado, pelo contrário, é destruído, se tornaram os principais focos do trabalho de Mariana e culminaram no projeto Patrimônio Azulejar em Belém, selecionado pelo Rumos.

Ao lado da profissional no desenvolvimento da iniciativa, o professor Bianchi Serique Meinguins é praticamente seu oposto. Doutor em computação aplicada e professor das disciplinas de realidade virtual e aumentada, visualização de informação, entre outras, ele é ligado ao novo, à modernidade.

Juntos, Mariana e Meinguins são a cabeça de um projeto inovador tecnologicamente, mas criado para preservar aquilo que é antigo em Belém e que tem imenso valor cultural. São o exemplo de que o novo não precisa acabar com o velho para existir. A tecnologia é usada aqui em prol da preservação de um patrimônio muito importante.

A ideia é simples: criar um aplicativo para celular que vai contar, a partir dos azulejos históricos da capital paraense, muito da história da cidade. Disponibilizado de forma gratuita para celulares e tablets, o aplicativo vai, em um primeiro momento, mostrar onde estão as obras de interesse. Em seguida, serão utilizadas técnicas de reconhecimento de imagem para obter informações em tempo real da obra visualizada através da câmera do dispositivo móvel. Textos, fotos, áudios e vídeos serão apresentados. Também haverá interfaces com redes sociais.

O Patrimônio Azulejar de Belém inclui peças dos séculos XVIII, XIX e XX, passando pelos períodos barroco, neoclássico, art nouveau, art déco, modernista e contemporâneo. “Este acervo está disposto em igrejas, palácios e residências e, muitas vezes, passa despercebido do grande público. Por meio dele é possível contar a história da cidade, onde os azulejos são documentos importantes que possibilitam narrativas sobre os modos de vida de cada época”, expõe Mariana.

Começo

A proposta surgiu em uma reunião realizada em Belém com representantes dos órgãos e dos conselhos de defesa do patrimônio histórico nacional, estadual e municipal. No encontro foi apontado um problema: os azulejos estavam sendo furtados e depredados na capital do Pará.

O que poderia ser feito? Alguns participantes apontaram soluções. A de Mariana foi o aplicativo. Mas faltavam recursos para viabilizar o projeto, o que será feito agora com o apoio do Rumos.

“Em 2013, eu prestei uma consultoria para a Unesco, junto com a Universidade Federal do Pará (Ufpa), em um projeto semelhante para contar a história de Belém a partir dos monumentos do centro histórico da cidade. Nesta reunião coloquei em pauta que poderíamos fazer outro aplicativo para tentar valorizar, mostrar esse acervo azulejar enquanto documento, mostrar que ele é importante para a comunidade e, por isso, deve ser preservado.”

Mariana Sampaio já conhecia Meinguins e não hesitou em chamá-lo para elaborar a parte operacional da iniciativa, já que ele é referência no assunto. Nesse projeto piloto, o conteúdo do aplicativo terá uma amostragem de 20 azulejos de todo o acervo do Patrimônio Azulejar catalogado no inventário já realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O instituto é parceiro da iniciativa, assim como a Ufpa. A intenção é que no futuro esse conteúdo e o software possam ser ampliados.

“Da mesma forma como em casa guardamos álbuns de família, roupinhas ou brinquedos, ou seja, tendemos a guardar nossa história, a cidade tem seus objetos, essa cultura material que precisa ser preservada a fim de asseguramos nossa memória, nossa história. Não podemos só olhar para o futuro e esquecer o passado, sob o risco de não sabermos quem somos hoje”, enfatiza Mariana.

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