obra: Casa Aberta (CD)
selecionado: Janaina Fellini

Janaina Fellini é dessas pessoas que já nascem sabendo quem são. Ela nasceu cantora. Simples assim, mas não sinônimo de um caminho fácil. Várias marcas estão presentes em sua trajetória – que resulta agora em seu segundo CD, Casa Aberta –, como o estudo constante, encontros com músicos talentosos, apoio familiar, ousadia, garra e uma certeza: a de não abrir mão do que acredita, mesmo que isso signifique viver na gangorra da instabilidade financeira.

Aos 29 anos, Janaina Fellini não exibe conquistas materiais, como a casa própria ou um carro. “Eu quero essas coisas sim, mas não quero deixar de fazer o que eu faço, o que acredito, aquilo que tem valor para mim”, sintetiza.

 

Pautada nisso, ela vem construindo sua carreira. Embora tenha se tornado profissional apenas em 2008, Janaina começou mesmo muito antes, em Vitorino, cidade paranaense de apenas 6.500 habitantes e localizada a 453 quilômetros de Curitiba. Foi ali, em festas familiares, animadas ao som de moda caipira, que a cantora teve seu primeiro contato com a música. “Sou de uma família de músicos não profissionais. O meu pai era sanfoneiro e tocava gaita e cada um dos irmãos dele tocava um instrumento. Mas eles não tinham nenhuma referência. Tudo que aprenderam foi de ouvido”, conta.

Em um tempo em que a internet não passava de ficção, Janaina foi formando suas referências musicais com as informações que conseguia colher aqui e ali, seja pelo contato com bandas e cantores que disputavam com ela os pequenos festivais realizados na cidade seja, depois, quando integrou um grupo de música de baile.

O salto musical se deu mesmo quando ela se mudou para a capital e ingressou no Conservatório de MPB de Curitiba. Tinha 17 para 18 anos e cursava a faculdade de jornalismo. “No teste para entrar no conservatório, eu tive de cantar “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso. Mas eu não fazia a menor ideia de quem era Ary. E esta é uma música superdifícil”, recorda, destacando a falta de conhecimento musical que permeou sua infância e adolescência.

Superado o desafio, Janaina mergulharia e se apaixonaria pela MPB e pelos discos de Chico Buarque, Tom Jobim e Caetano Veloso. “Eu fiquei fascinada”, lembra. Foram cinco anos de aprendizado no Conservatório de Curitiba. Janaina fez também muitas outras oficinas. “Eu sempre estudei muito.”

Em um desses cursos, foi provocada pelo amigo músico Fábio Abu. “Ele falou: ‘Jana, está na hora de sair da toca. Vamos montar alguma coisa, vamos trabalhar juntos?’”. Ela topou e, daí para a formação do Zazueira (nome inspirado na música de Jorge Ben Jor), foi um pulo. O grupo se apresentou durante três anos na noite curitibana. A formação original era Janaina ao lado de Fábio Abu e de Luis Bourscheidt. Mas ela acabou cantando também com muitos outros músicos, o que lhe deu uma experiência de palco e de improviso que seria essencial para o futuro. “Isso me trouxe uma bagagem muito legal, uma maturidade.”

Casa Aberta

O primeiro álbum também abriu as portas para o projeto atual, Casa Aberta. Dessa vez não precisará do sistema de “economia criativa”, já que conta com o apoio do Rumos.

“A ideia é abrir a casa, receber. O disco está inserido nessa proposta de integração, de atravessamento da arte e, principalmente, de troca, de diálogo, de construção”, explica Janaina. No repertório, nomes da música contemporânea e também compositores consagrados, mas que receberão um novo olhar.

Os músicos que acompanharão a cantora no novo CD são: Dú Gomide (guitarra), Glauco Solter (contrabaixo), Alonso Figueroa (teclados e programação), Sérgio Freire (sax) e Denis Mariano (bateria).