Por Cassiano Viana

Para João Pina, a fotografia é a linguagem mais universal que temos no século XXI. "Mas estamos todos ainda tentando entender quais são os limites e as vantagens dessa magnífica ferramenta a que, felizmente, hoje uma multidão tem acesso", diz o fotógrafo, que participa do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, a ser realizado no Itaú Cultural de 16 a 19 de junho.

>>Veja também:
O fotógrafo participa de uma entrevista aberta ao público durante o evento

Nascido em Lisboa, em Portugal, e formado em fotojornalismo e fotografia documental pelo Centro Internacional de Fotografia, em Nova York, nos Estados Unidos, Pina tem trabalhos publicados nos jornais The New York Times e El País e nas revistas The New Yorker, Time e Newsweek. Em 2011, recebeu o prêmio Lion d'Or, do Festival de Publicidade de Cannes.

"Cada vez mais acho que o papel do fotógrafo hoje é principalmente o de alguém que sabe ler, pensar e trabalhar imagens, da mesma forma que um escritor sabe ler, escrever e trabalhar as palavras", diz o autor de Condor, livro-tributo à memória das vítimas da Operação Condor – plano militar secreto, instituído em 1975 por seis países latino-americanos governados por ditaduras militares, para eliminar a oposição política.

Com o olhar voltado para o Brasil, Pina atualmente trabalha no projeto Gangland, sobre a violência urbana no Rio de Janeiro.

Esteban Echeverria, 2011 (Foto: João Pina)
Esteban Echeverria, 2011 (Foto: João Pina)

Qual é o papel da fotografia hoje?

Os meios tecnológicos e as diversas fontes de informação tornaram o mundo mais acessível a um grande número de pessoas que antes viviam desligadas e até marginalizadas. Essa democratização dos meios é muito positiva, pois vivemos numa época em que é possível ter voz própria e ser ouvido.

O revés dessa medalha é que estamos também a viver uma época de muita confusão. Como todos temos acesso a um telefone com uma câmera, é possível fotografar e filmar incansavelmente, sem em nenhum momento refletir sobre o que é feito, sobre o que se retira dali. Existe uma alienação daquilo que se presencia, sob a desculpa de documentar e sobretudo pensar em audiências. De certa maneira, é como se, quando a esferográfica BIC apareceu no mercado, todos os que passaram a escrever achassem que eram escritores: o mundo estaria perdido e a literatura estaria em maus lençóis.

Cada vez mais acho que o papel do fotógrafo hoje é principalmente o de alguém que sabe ler, pensar e trabalhar imagens, da mesma forma que um escritor sabe ler, escrever e trabalhar as palavras. A fotografia é a linguagem mais universal que temos no século XXI, mas estamos todos ainda tentando entender quais são os limites e as vantagens dessa magnífica ferramenta a que, felizmente, hoje uma multidão tem acesso.

O tema do fórum neste ano é A Fotografia como Pensamento, com uma reflexão sobre o conceito de arquivo. Em sua opinião, as imagens de arquivo estão sendo mais acessadas ou trabalhadas/utilizadas hoje?

Sinceramente não sei se as imagens de arquivo são mais trabalhadas ou utilizadas hoje. Acho que, historicamente, sempre houve preocupações arquivísticas para que os suportes visuais estivessem disponíveis no futuro. E hoje, felizmente, podemos usufruir de arquivos magníficos, que foram cuidados, organizados e trabalhados ao longo dos anos para que se tornassem acessíveis.

Por outro lado, preocupa-me o fato de que, com a gigantesca quantidade de fotografias produzidas no mundo hoje, não consigamos dar conta de todo o fluxo existente para triar e arquivar de forma lógica. Ou seja, a quantidade de imagens produzidas hoje é tão grande que conseguir olhar para o que se produziu demora muito tempo, e o número só vai aumentando. Como ficar – e organizar – com o que poderá ser relevante no futuro? Essa é uma grande questão para mim.

Qual é a sua percepção do papel e da importância do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo para a área fotográfica no Brasil e na América Latina?

É a primeira vez que participo do fórum. Pelo que vejo do programa, acho que vão acontecer coisas muito interessantes em São Paulo e espero sinceramente que o evento possa ser bem divulgado, que as pessoas interessadas se unam e discutam e que pensemos juntos nos desafios que temos diante de nós como fotógrafos. Da minha parte, estou muito curioso para estar em São Paulo nesses dias.

Veja também

Rumos 2015-2016: Retrato Falado

No Rio de Janeiro, o projeto Retrato Falado leva a narrativa e a produção fotográficas e as questões de identidade para jovens em...