por Nayra Lays

 

Quem atravessa busca algo.

Na infância, seguramos em mãos adultas para cruzar ruas e avenidas que pareciam ter muitos perigos. Desconhecidas. Movimentadas demais. Gigantes. Depois, aprendemos a atravessar sozinhxs, e o que nos dava medo se tornou um hábito.

Se engana quem acredita que só o novo, o não descoberto, merece cuidado. O que já existe é tão parte do caminho quanto o que está para chegar, e até alguns hábitos exigem cautela. É por isso que continuamos olhando o farol antes de atravessar a rua.

Quando falamos sobre vida, travessias se tornam ainda mais desafiadoras. Vida me lembra o mar, imenso, com seu movimento e ginga próprios. Quem ousa se aprofundar precisa lidar com o pouco controle sobre o que acontece. Ter humildade. Nem mesmo o mais experiente mergulhador pode anular o fato de ainda saber pouco sobre o mar. Por isso, na vida, travessias também envolvem os encontros com quem escolhemos nos aprofundar lado a lado.

Foi pensando em alguns desses encontros que transformaram meu caminho que pari a coluna Travessias. Durante o ano, partilharei – através de textos, fotos e vídeos – conversas com pessoas que me fazem enxergar beleza, não só perigo, no desejo de ir mais fundo, ver os corais e o que sobra dos naufrágios. A cada mês, seguraremos na mão de alguém que inspira outros olhares sobre o vai e vem da vida e mergulharemos em histórias, falas, amores, vivências e, claro, monstros. Neste ano de correntezas e ondas fortes, não nos manteremos ilhados pela falsa sensação de segurança.

Mergulharemos. Nos manteremos protegidxs por saber o que buscamos ao juntar coragem para atravessar, e seguiremos. Continuaremos a nadar, sim, como incentiva a personagem Dori, de Procurando Nemo. Mas em hipótese alguma nos esqueceremos do percurso já feito.

Boa viagem.

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