Morreu às 15h45 desta quinta-feira, 20 de janeiro, no Rio de Janeiro (RJ), Elza Soares, aos 91 anos. A morte se deu por causas naturais, de acordo com comunicado divulgado por sua assessoria no perfil oficial no Instagram.

Coincidentemente, ela faleceu no mesmo dia que jogador de futebol Garrincha, morto em 1983, com quem Elza foi casada por 16 anos, de 1966 a 1982. Os dois tiveram um único filho, Manoel Francisco dos Santos Júnior, conhecido como Garrinchinha, morto também em um mês de janeiro, dia 11, em 1986, vítima de um acidente de carro.

A cantora Elza Soares posa para foto de divulgação do seu trabalho Planeta Fome. A cantora de 90 anos está sentada de lado, com a cabeça inclinada olhando para a câmera.
“Elza é esperança”, disse a cantora em entrevista à série Um certo alguém, do Itaú Cultural (imagem: Marcos Hermes)

“A música brasileira perde Elza Soares, ‘a mulher do fim do mundo’, dona do canto mais visceral da música brasileira. Sua voz e atitudes também combateram o racismo e, certamente, ela representa a força tranformadora das mulheres”, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. “Elza nos ensina, acalenta, provoca e instiga desde 1953, quando encantou o público no programa de Ari Barroso; cantou samba, rap e eletrônico, interagindo e compondo com novas gerações da música brasileira”, completa.

Como na música já citada – "A mulher do fim do mundo" –, Elza Soares cantou até o fim. No começo de fevereiro, a artista tinha show marcado na Casa Natura Musical, com o rapper Renegado.

“Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida dura até o fim
Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar”

Mulher negra aparece em foto preto e branca, de turbante e com o dedo indicador na frente da boca, em sinal de pedido de silêncio.
Elza Soares morreu aos 91 anos (imagem: divulgação)

Ao Itaú Cultural Elza Soares deu um depoimento exclusivo sobre sua vida e carreira em 2015, na série +70, que entrevistava artistas e criadores com mais de 70 anos. Na ocasião, Elza tinha acabado de lançar o disco A mulher do fim do mundo e descreveu essa mulher assim:

Close da cantora Elza Soares. Ela é negra e tem os cabelos pintados de roxo, em penteado black power.
Elza Soares em 2015 (imagem: frame de vídeo)

“A mulher do fim do mundo é uma mulher que está aí pra tudo e pra todos. É uma mulher que sabe o que quer, tem tolerância, uma mulher que luta, que busca. Uma mulher que acredita e não para nunca. Esta é a mulher do fim do mundo. Sempre busco uma coisa diferente para fazer, não fico na mesmice, não. Tô sempre saindo e buscando, querendo descobrir coisas novas. E dá certo.”

Em 2020, Elza Soares deu uma entrevista para a série Um certo alguém. Na ocasião, a cantora disse que o que mais queria era “o fim da pandemia” e também nos contou como imaginava o amanhã.

“Espero que seja bem diferente do que estamos passando hoje, diferente do que passei ontem ou do mês passado. Que seja tudo muito ensolarado, com o povo mais feliz, mais consciente. A gente sorrindo de verdade.”

Abaixo, você escuta as respostas na íntegra na voz da própria artista. Os áudios inéditos são datados de 21 de maio de 2020.

Qual é a história da sua maior saudade?

O que você mais quer agora?

Como você imagina o amanhã?

Quem é Elza Soares?

Em 2012, durante a gestão do Itaú Cultural no Auditório Ibirapuera, Elza Soares se apresentou lá nos dias 14 e 15 de janeiro, ao lado de um trio formado por  Rômulo Pinto, nos teclados, Elcio da Costa, no baixo, e João Melo, na bateria. Assista a trechos do show, que acabou de completar 10 anos, abaixo. Em 2015, Elza também fez shows no Auditório Ibirapuera, desta vez para lançar o álbum A mulher do fim do mundo, como mostra o cartaz abaixo. O disco ganhou o Grammy Latino em 2016, na Categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.

Cartaz de show, com informações de dia e horário, mostra mulher negra de turbante e com o dedo indicador na frente da boca, em sinal de pedido de silêncio.
Cartaz do show de Elza Soares no Auditório Ibirapuera, 2015 (imagem: divulgação)

Também é possível ouvir Elza Soares no programa Estéreo Saci, no qual foi apresentado o álbum A bossa negra, lançado em 1961 pela gravadora Odeon e relançado pela Dubas em 2003. Destacam-se os scat vocals de Elza e os arranjos do maestro Astor Silva, que pretendia fazer da cantora carioca a Sarah Vaughan brasileira.

Saiba mais sobre a artista na Enciclopédia Itaú Cultural.

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