por Silvero Pereira

Caramba!

Vou precisar começar com essa palavra, ao perceber que se passou um ano desde os registros fotográficos que fiz no início da pandemia, em 2020. A real sensação que tenho, neste exato momento, é de que os sentimentos não mudaram tanto assim. Entretanto, posso afirmar que me sinto menos apavorado, e isso vou explicar com calma.

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Homem está diante de uma igreja em cidade do interior. A igreja é branca com portas azuis. Ele está sentado na frente de uma cruz, e suas mãos estão em prece.
O ator Silvero Pereira esteve envolvido em várias produções nesse ano de pandemia (imagem: acervo pessoal)

O fato é que, em março de 2020, sabíamos pouco sobre essa onda que nos atingiu. Não sabíamos exatamente como nos proteger, se máscaras de pano tinham eficiência ou mesmo se conseguiríamos atravessar esse momento. Bom, hoje me sinto um pouco mais seguro, mais confiante, porém não totalmente, e isso é ótimo para não baixar a guarda, não acreditar que acabou ou que estamos livres novamente. Manter o estado de alerta é um sentimento superpositivo e tem me permitido assumir compromissos cuidando da minha saúde, dos meus familiares e de todos que trabalham comigo.

Homem está sentado em uma mesa branca, diante de um notebook, gesticulando. Há uma luz de estúdio no canto lateral direito da mesa.
Silvero Pereira recrutou amigos para reencenar uma montagem de 2012, adaptando para a linguagem virtual, a partir de ensaios e produção remota (imagem: acervo pessoal)

Nesse um ano que se passou, busquei as redes sociais como espaço de convivência, de apoio; afinal de contas, elas precisam ser usadas dessa forma agradável, de conexão. Passei a criar conteúdos que atraíam ainda mais pessoas para os meus perfis, sempre pensando num material que também me atravessasse no lugar da alegria, do entretenimento e da informação, já que, usando [Antoine de Saint-] Exupéry, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" [risos].

Cartaz com fundo preto mostra em letras vermelhas o título de uma peça teatral: Bixa Viado Frango. Um ator aparece com os cabelos curtos pintados de loiro, chifres de viado e com uma bola de goma de mascar na boca.
A peça Bixa Viado Frango foi encenada no Instagram (imagem: divulgação)

Ainda no espaço das redes sociais, recrutei amigos e realizamos a adaptação do espetáculo Metrópole, uma montagem de 2012 que reencenamos, adaptando para a linguagem virtual, a partir de ensaios e produção remota. O resultado foi tão positivo que me instigou a criar outro trabalho, sendo que dessa vez não se tratava de uma adaptação de espetáculo existente. Bixa Viado Frango foi escrito, produzido e encenado todo a partir da linguagem virtual. Esse projeto foi muito especial para mim, pois, além de me trazer de volta ao teatro (não entrava em produção de espetáculos desde 2013, com BR Trans), possibilitou agregar profissionais de outras áreas e formar redes de apoio e trabalho.

Dois homens aparecem em cena, um deles refletido em um espelho, com os torsos nus e um deles com expressão facial de grito.
"Nesse um ano que se passou, busquei as redes sociais como espaço de convivência, de apoio", conta Silvero Pereira (imagem: acervo pessoal)

No campo do audiovisual, também surgiram propostas muito especiais. Uma delas foi a produção remota do filme Fluxos, de André Pellenz. Esse trabalho foi todo filmado sem contato físico e com profissionais de diversos lugares do país, cada um em sua casa (atores, maquiadores, figurinistas, diretor, direção de arte, câmera e iluminador). Nesse processo, nós atores tínhamos conversas prévias com cada profissional, que nos orientava sobre como preparar nossa casa, guarda-roupa e utensílios que fizessem parte do universo da personagem. Foi um grande aprendizado.

Outro ponto importante foi retornar aos trabalhos presenciais, mesmo tomando todos os cuidados. No Ceará, assim que flexibilizou, foi possível pisar no palco novamente e ter contato direto com a plateia. Essa foi uma experiência emocionante. Ainda em Fortaleza, participei, pela primeira vez, de um longa cearense, no caso o filme de Halder Gomes Bem-Vinda a Quixeramobim. Logo em seguida, fiz minha primeira viagem de avião na pandemia, para o Rio de Janeiro, onde participei de dois projetos. O primeiro foi a montagem do espetáculo Guerra em Iperoig, da Mundana Companhia, no qual parte do elenco estava em cena, porém sem plateia e com exibição on-line. Já o segundo projeto foi o filme Me Tira da Mira, da Cleo Pires.

Homem aparece com uma claquete de cinema nas mãos. Ele usa camiseta preta e seus olhos estão maquiados.
Em Fortaleza, Silvero Pereira participou do longa cearense Bem-Vinda a Quixeramobim, de Halder Gomes (imagem: acervo pessoal)

Por fim, fiz uma segunda viagem, desta vez para Vitória (ES), onde estou, ao lado de minha parceira Jezebel De Carli, realizando a direção do espetáculo Temos Carne de Rã, da atriz capixaba Aidê Malanquini, que tem estreia prevista para agosto de 2021.

E, assim, acho que o maior aprendizado de todo esse período foi o de manter a calma e descobrir alternativas para continuar produzindo e se cuidando. Acredito que, mesmo numa situação delicada, foi possível construir novos espaços criativos e seguir com fé!

Silvero Pereira é ator e diretor.

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