Classificação indicativa: Livre
 

por Heloísa Iaconis

Atentar para detalhes e semblantes, além de intensificar o clímax de uma trama psicológica, é um desafio grande. Para dar vida a esse projeto, Joseph Specker, diretor de Almofada de Penas, selecionado pelo Rumos 2013-2014, fez uso de uma técnica denominada stop motion. Bonecos esculpidos à mão são colocados em movimento e, desse modo, a narrativa é desenvolvida. Os cinco anos de pesquisas e processos artísticos que dão base ao trabalho audiovisual estarão retratados na exposição Almofada de Penas: Arte em Stop Motion, no Museu da Imagem e do Som do Centro Integrado de Cultura (CIC), da Fundação Catarinense de Cultura, em Florianópolis. O filme, aliás, terá pré-estreia no CIC, em três sessões no dia 22 de março: às 19h30, às 20h e às 20h30.

O curta-metragem é uma adaptação do conto homônimo do escritor uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937), cuja obra versa sobre temas sobrenaturais, fato que explica as comparações entre ele e Edgar Allan Poe (1809-1849). Na história, três meses após sua lua de mel, Alicia entra em depressão. Acometida por uma doença inexplicável, a protagonista começa a confundir delírios com a realidade. Jordão, o marido, no entanto, adota uma postura indiferente, fria.

A mostra traz quase todo o material utilizado diante das câmeras: 7 cenários, 12 bonecos, 200 expressões prototipadas. Fora isso, o público também poderá ver imagens dos bastidores da produção, elementos que, juntos, constroem a trajetória de um projeto voltado para as intempéries da mente.

Técnica vida afora

Quando estava no último ano da faculdade de design gráfico, Joseph Specker precisou escolher uma trama para contar. Não demorou a se decidir: lembrou-se logo de uma obra lida na escola, Cuentos de Amor, de Locura y de Muerte, de Horacio Quiroga. Especificamente, do conto “El Almohadón de Plumas”. Dessa maneira, o que viria a ser um curta-metragem começou a ser construído ainda na graduação. “O que mais gosto da história é a simplicidade e a brutalidade com que Quiroga nos transporta pelo enredo, a dualidade das palavras e a crítica à sociedade da época que perdura até os dias de hoje”, comenta o diretor.

Desenvolver uma animação para adultos é o mote a partir do qual Joseph elaborou a sua criação. Ele se valeu de um procedimento artesanal que, na cena brasileira, era associado à seara infantil ou de comédia, o stop motion, para costurar uma rede que, em suas palavras, é “densa e visceral”. A equipe buscou conhecimento de forma constante e integrou testes, pesquisas e experimentações: a complexidade da feitura de puppets (bonecos), um processo de troca de face com impressão 3D; a recriação do que o maior estúdio dessa área, Laika, fez na época em Paranorman (2012); 200 expressões prototipadas, fruto de uma parceria com a empresa Ágil 3D, o que permitiu, por meio da mudança de bocas e sobrancelhas, a fala dos personagens. Já os corpos dos bonecos ganharam esqueletos de aço com articulações nas juntas, arranjo que possibilitou às figuras movimentos precisos.

Tamanha minúcia dos mecanismos escolhidos exigiu paciência, planejamento e dedicação. Em momentos específicos, a turma-base teve o auxílio de mais colaboradores, o que totalizou acima de 50 nomes envolvidos na produção – vindos, além do Brasil, de diferentes partes da América Latina, como Bolívia, Colômbia, Argentina e Uruguai. Esse compartilhamento de experiências aumentou a qualidade de uma ideia que, após seis anos, nasceu.

Alicia, protagonista de Almofada de Penas | divulgação

Está no mundo

Almofada de Penas nasceu. Está no mundo. Foi finalizado em janeiro de 2018 e aguarda respostas de festivais. A primeira boa notícia chegou no dia 13 de março: o curta entrou para a seleção oficial do Annecy, o mais antigo festival de animação.

A mostra no CIC, portanto, celebra um trabalho que tem bastante caminho a trilhar. O incentivo a jovens interessados em enxergar possibilidades novas nas artes é um dos pontos propulsores da exposição, que promoverá palestras, visitas guiadas e contato com Joseph.

Ficha técnica
Montagem
Ana Barroso Calle
Marcos Telles
Gabriel Nunes
Joseph Specker Nys
Consultoria de comunicação
Evandro Pimentel
Nicole Candian
Direção e roteiro
Joseph Specker Nys
Produção-executiva
Maria Emilia de Azevedo
José Manuel Sappino

Mostra Almofada de Penas: Arte em Stop Motion
abertura:
quinta 22 de março de 2018, às 19h
capacidade:
137 lugares
duração do curta-metragem: 12 minutos
na pré-estreia, haverá uma conversa informal com a equipe após a sessão
visitação: de 22 de março a 17 de junho de 2018, terça a domingo, das 10h às 21h
agendamento para grupos e visitas mediadas:
(48) 3664-2653 ou agendamentomis@fcc.sc.gov.br
local: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS/SC), Centro Integrado de Cultura (CIC) – Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600 – Agronômica, Florianópolis (SC)
entrada gratuita  
[livre para todos os públicos]

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