Um corte de cabelo. Algumas lembranças. Uma história familiar interrompida a ser compreendida e, quem sabe, retomada. Afinal, por onde andaria a tia Luma, que saiu de Feira de Santana, há quase 27 anos? Seria a mesma pessoa de suas lembranças de infância? Por que tipo de situação, conflito, dificuldade e desafio teria passado?

Foi com a ideia de buscar respostas para essas perguntas não respondidas e tentar se aproximar da tia que a diretora baiana Camele Queiroz decidiu apostar em um reencontro que nem mesmo ela sabia se seria possível. Após alguns contatos com Luma, via telefone, e algumas mudanças de opinião por parte dela sobre filmar ou não, Camele resolveu então reencontrá-la, utilizando o cinema como meio para essa aproximação e como forma de se relacionar não só com aquela parente, mas com o mundo e com as pessoas ao seu redor.

A cabeleireira e performer Luma Kalil | foto: divulgação
A cabeleireira e performer Luma Kalil | foto: divulgação

Quarto Camarim (2017, 100 min), selecionado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016 e com codireção de Fabricio Ramos, mostra o reencontro da diretora com a tia – que ela viu pela última vez ainda como tio, quando tinha 6 anos de idade – e um encontro dela consigo mesma, na tentativa de ampliar a compreensão de sua própria existência.

Cabeleireira e performer (intérprete de grandes cantoras nacionais e internacionais), a tia de Camele vive na periferia de São Paulo (até a ocasião das filmagens), trabalhando em seu próprio salão de beleza. Apesar dos 27 anos sem contato com a sobrinha, demonstra grande carinho e afeto por ela, a quem se refere como Mel. Por meio de diálogos e cenas que nos levam a imaginar o que teria acontecido antes e depois daquele encontro, Luma vai contando sua trajetória cheia de atritos familiares, mas também repleta de lembranças, força e coragem.

 

Rumos_still do filme Quarto Camarim_projeto Luma_01

Camele e Luma conversam em cenas do documentário | fotos: divulgação
Camele e Luma conversam em cenas do documentário | fotos: divulgação

O que de fato teria motivado esse encontro, que transcende a relação de tia e sobrinha entre essas duas mulheres de diferentes gerações, histórias de vida e sensibilidades, é a pergunta proposta pela obra ao espectador. O filme traz ainda no título a descrição da lembrança de infância que Camele tinha do quarto da tia – na época em que esta vivia em Feira de Santana, na casa da mãe.

Quarto Camarim foi finalizado em maio de 2017 e exibido em 22 de novembro no Canadá – no Vancouver Alternative Cinema Festival – e em 5 de dezembro na República Dominicana – na mostra oficial do Santo Domingo OutFest – Festival Internacional de Cine GLBT. Saiba mais no site oficial do filme.

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